Rogério Distéfano
“TÔ NEM AÍ”, disse o magistrado de Mato Grosso sobre os R$ 500 mil que recebeu no mês de julho. Estava em paz, pois o Conselho Nacional da Magistratura havia aprovado os benefícios que levaram ao pagamento – a ele e a outros magistrados do Estado. O magistrado fez o que podia fazer, dentro da lei, como ela é concebida pelos magistrados, em alguns casos até criada pelos magistrados.
O problema com o juiz não é o ganho que escarnece das desgraças do povo brasileiro. Porque não é só o magistrado que tem ganhos ofensivos às desgraças do povo. Como ele estão vereadores, deputados e senadores, funcionários do poder legislativo e dos tribunais de contas. Ofensa ao povo como a corporações como as polícias e os militares, que vivem à míngua, embora cumpram funções tão importantes quanto a magistratura.
O problema do juiz está no cinismo do “tô nem aí”, palavras que nos fazem avançar sobre o ethos, dele e tendencialmente da classe. O juiz está na melhor companhia, de seus colegas, e sob a proteção corporativa do judiciário. Nosso juiz foi formado e forjado sob a condição favorecida de magistrado, a salarial em especial. Choca o que está por trás do “nem aí”. Se o juiz de Mato Grosso assim julga a si mesmo, o “nem aí” diz muito sobre como julga as causas sob sua jurisdição.