Estava sozinha. De novo. Como sempre. E, como sempre, observando o som ao redor. Fitou as árvores em cima do morro, cuja encosta dava para o mar. Lá onde ela jogou as alianças de seu casamento para esquecer que um dia amou. Não adiantou, pois às árvores sussurrava seu segredo: a coragem que nunca a deixou via tudo como uma imagem e não a realidade que muitos teimam em acreditar. O que é real, afinal? O que se vê ou o que está lá para ser visto? Tão profundo como aquele mar que não enxergava, era a verdade que virou sua doce obsessão. O pai nunca mentiu. Percebeu isso depois de velha. Como conseguia? Até mesmo nos momentos delicados de sua intensa vida, ele não distorceu a verdade e a realidade. Daí vinha a fraqueza dela, pois ela sabia mentir e dissimular. Era atriz. Mas àquelas árvores não mentia e elas a responderam: o real é criação da imaginação, que está além das palavras.