por Nelson Rodrigues
Certa vez, o Palhares cruzou com a cunhada no corredor e atirou-lhe um beijo no pescoço. Como reagiu a garota, ou a família da garota, ninguém sabe. O fato é que, a partir de então, sempre que o Palhares passa, alguém sussurra: – “O que não respeita nem as cunhadas”. Em outros tempos, ele seria caçado a pauladas como uma ratazana prenhe. Mas os tempos são outros. O Palhares não sofreu nada e, pelo contrário: – o ato vil teve, sobre sua figura, um tremendo efeito promocional. Sujeitos que lhe recusavam o cumprimento vinham fazer-lhe festas deslavadas. E, por coincidência ou não, o chefe deu-lhe um aumento de ordenado.
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O homem não se reconhece no santo, no herói e no mártir, mas se identifica com o pulha. Nós somos muito mais Palhares do que São Francisco de Assis.