A poesia da medicina ainda está para ser reconhecida. Depois de prospectar e desbastar o interior do paciente com uma sonda a laser, o doutor estranhou que a vítima desapareceu por seis meses. Quando recebeu o telefonema, ouviu a explicação: “Se tivesse dado caca eu teria ligado bem antes”. Então o médico poetou em guias a serem encaminhadas para a aprovação e liberação da administradora do plano de saúde: Hemograma com contagem de plaquetas e frações (eritrograma, lecograma, plaquetas; Uréia, soro; Creatinina, soro; Antígeno específico prostático livre (PSA livre); Antígeno específico prostático total (PSA); Glicose, Plasma; Rotina de urina (caracteres físicos, elementos anormais e sedimentoscopia); Cultura, urina com contagem de colônias; Ultrassom aparelho urinário (rins, ureteres e bexiga); Ultrassom abdome inferior masculino (bexiga, próstata e vesículas seminais). O operado ficou lendo isso todas as noites durante um mês. Seguia um ritual: sempre fazia isso antes de dormir e de rezar ajoelhado ao lado da cama, de mãos postas e olhos fechados. Um dia acordou e lembrou da sabedoria popular que esclarece: quanto mais se mexe, mais se acha. Pensou em acender o fogo da lareira com aqueles papeis. Desistiu. Resolveu encarar a maratona poética. Antes dos resultados, contudo, aumentou as sessões de terapia, pois já estava perdendo muito peso só de pensar que a coisa ainda estava instalada no corpicho.