Fiquei olhando os pés do terapeuta. Ele calçava sandálias, mas com meias listradas em branco e preto. Entrei no túnel do tempo, como no velho seriado da televisão. E falei descontroladamente, sem que viesse uma orientação da alma ou da cachola. Sim, eram aquelas meias nos pés de um jovem doutor vestido de uma forma impecavelmente elegante no resto do corpo que me conduziam. Até a descoberta da inexistência de Papai Noel veio. Assim como meu choro, porque nunca ganhei nada e me torturava ver as crianças da vizinhança mostrando seus brinquedos no dia seguinte. Paixões, amor, sexo, taras contidas… e meu olhar fixos naqueles dois pés imóveis. Então, o dedão do pé direito fez um movimento. Foi como o sinal que os hipnotizadores dão para que suas cobaias voltem à realidade. Olhei o doutor. Ele disse que minha hora tinha acabado. Paguei com cartão de crédito.