8:15O açougueiro predileto de Lula esquarteja a verdade

por Augusto Nunes

Joesley Batista aproveitou uma entrevista para assumir de vez a paternidade da meia delação premiadíssima

Na entrevista concedida à revista Época, Joesley Batista assumiu a paternidade de outra brasileirice repulsiva. Sob a supervisão do procurador-geral Rodrigo Janot e com as bênçãos do ministro Edson Fachin, relator dos casos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, foi o dono da JBS o inventor da meia delação premiadíssima. Em troca da impunidade perpétua, o depoente conta apenas uma parte do muito que sabe. Para alegria do chefe do Ministério Público, é exatamente essa a parte que arquiva bandalheiras que envolvem seus alvos preferenciais.

Como nos depoimentos cujos trechos mais ruidosos foram divulgados há pouco mais de um mês, também na entrevista a Diego Escosteguy o credor favorito do BNDES não se atreveu a negar o que qualquer bebê de colo está cansado de saber: “Lula e o PT institucionalizaram a corrupção”. Mas quem lidera “a quadrilha mais perigosa do Brasil é Michel Temer”, não o antecessor que concebeu e dirigiu o maior esquema corrupto de todos os tempos. Esse, aos olhos do delator espertalhão, foi sempre um modelo de civilidade e respeito à lei. “Nunca tive conversa não-republicana com o Lula. Zero”, jurou. “Eu tinha essas conversas com o Guido Mantega”.

“Conheci o Lula só no fim de 2013”, mentiu no fim da fantasia. A verdade esquartejada foi recomposta no parágrafo seguinte. “O senhor não era próximo do Lula quando ele era presidente?”, perguntou o entrevistador. “Estive uma vez com o presidente Lula quando assumi o comando da empresa em 2006”, derrapou o entrevistado. O primeiro encontro da dupla, portanto, ocorreu sete anos antes — sete anos excepcionalmente lucrativos. Em 2006, o faturamento da JBS somou 4 bilhões de reais. Saltou para 14 bilhões já no ano seguinte.

De lá para cá, o grupo dos irmãos Batista, anabolizado por empréstimos de pai para filho liberados pelo BNDES, desenhou uma curva ascendente de dar inveja a magnata de filme americano. Em 2016, graças a sucessivos negócios internacionais facilitados pela usina de favores do Planalto, o faturamento bateu em R$ 170 bilhões. Mas Joesley fez questão de registrar que as também “as relações com o BNDES foram absolutamente republicanas”. Nada de conversa não-republicana com o presidente Luciano Coutinho ou diretores da generosa instituição. Quando precisava de outro empréstimo, bastava falar com Mantega.

Ou seja: a corrupção institucionalizada por Lula e seu partido rolou solta por mais de 13 anos, mas Joesley continua concentrando a artilharia em Michel Temer e no PMDB, sem esquecer de reservar a Aécio Neves algumas balas de grosso calibre. Decidido a poupar a mais gulosa e atrevida organização criminosa (ORCRIM, ele simplifica), Joesley segue repetindo, sem ficar ruborizado, que teve como comparsa um único e escasso oficial graduado da tropa de larápios: Guido Mantega, codinome Pós-Itália.

Se cinismo fosse crime, nem a dupla Janot e Fachin conseguiria livrar da cadeia o açougueiro predileto do chefão da quadrilha. Ele mesmo, o governante que criou o Brasil Maravilha com dinheiro roubado do país real.

*Publicado na Veja On-line

4 ideias sobre “O açougueiro predileto de Lula esquarteja a verdade

  1. Ademar Luiz Vieira

    Deverei o Glorioso Exército Brasileiro, também , investigar os laços de AMIZADE COLORIDA entre os donos da GAZETONA e o ministro Fachim e o ministro Janot.
    Muita coisa ruim vai sair dessa AMIZADE.
    Esperar pra ver.
    PS. Investigação total em Brasília, é isso.

  2. Maringas Maciel

    Augusto Nunes não é aquele jornalista que ancorou o Programa Roda Viva, onde os jornalistas chapa-branca levantavam a bola para o Fora Temer cortar, numa ‘entrevista’ que beirou o ridículo de tão encomendada que foi? Esse texto acima coloca ele no mesmo patamar do PHA, o blogueiro predileto do Lula. Um discurso afinado com a defesa do Fora Temer e do Eduardo Cunha.
    Chega de hipocrisia: o agora inimigo numero um da quadrilha do PMDB delatou o PT ( U$50 milhões numa conta para o Lula, U$50 milhões numa conta para a Dilma, só para exemplificar); delatou o Fora Temer (entre outras coisas, R$1 milhão entregues em dinheiro para o Coronel amigo do Fora Temer); delatou o Eduardo Cunha; delatou o Aécio; delatou o Renan; delatou o Beto Richa ( R$ 1 milhão em espécie entregues num supermercado para o Pepe Richa); delatou um procurador de justiça; delatou um juiz; e por aí vai.
    Aí vem o jornalista Augusto Nunes com esse texto alinhado com o discurso do Temer, querendo distorcer a entrevista do JBS. Eu li a entrevista e nela o entrevistado diz claramente que o PT institucionalizou a corrupção no Brasil (colocando uma organização na coisa que sempre existiu, mas que era feita de forma desorganizada) e que TODOS os outros partidos copiaram o modelo. Ele também afirma que o PMDB é a ‘quadrilha mais perigosa do Brasil’ e seu chefe é o Temer (alguma dúvida de que o Temer é o chefe do PMDB?).
    Eu entendi o que o JBS quis dizer: o PT é uma quadrilha (ORCRIM) assim como o PSDB e o PMDB. A diferença que coloca o PMDB na frente do PT como a quadrilha mais perigosa, é o fato de que o PT, apesar de toda a corrupção e ladroagem, roubavam em nome de uma ideologia, de uma causa; já o PMDB não tem ideologia, é bandidagem pura.

  3. Oto Lindenbrock Neto

    Editorial do Estadão? Faz alguma diferença? O Estado de SP é um cadáver insepulto. É uma Gazeta quatrocentona, que acha que ainda tem alguma influência. Como bem lembrou o Maringas, Augusto Nunes é um praticante do jornalismo de ocasião, ou de resultados, como gostam alguns. É adepto do “melhor que o atual governo, só o próximo”. O Estadão quer um governo pra chamar de seu. Não dava com o PT. O Aécio micou. O Temer esfarelou. Rezam para o Dória ter alguma chance.

  4. zangado

    A se ver pelas noticias ou comentários, parece que estamos mais preocupados em apontar quem é o melhor bandido ou ladrão, enquanto o país dos brasileiros honestos continua a pagar uma conta e um destina que não sabe quando e como vai terminar. No sermão do Bom Ladrão lavrado em 1655 (recomendo ler) escreveu Vieira: “Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício: porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco ponem latronem, et piratam quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o rei de Macedônia, ou de qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. ” Para reflexão.

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