Perdi a chave e entrei em pânico. Acho que foi isso. Mas eu não perdi a chave, mesmo porque há tempos o cofre tinha sido aberto assim como quem está andando numa trilha na floresta e vê a luz do sol varando copa de árvore para iluminar as folhas de uma pequena samambaia. Sim, é Deus, como quem consegue ver entende. Portanto, será que perdi a chave ou não naquela tarde na cidade de prédios e casas feias? Me deu um treco porque o coração ficou apertado e senti a possibilidade de presenciar o desaparecimento de tudo, assim, como se uma nuvem tivesse atravessado lá em cima – e cá embaixo se fizesse breu e nada mais pudesse ser visto. De repente um bem-te-vi cantou na escuridão e indicou o caminho. Será que eu ouvi mesmo? Lembrei então do amarelo predominante das penas e os olhos negros na cabeça afilada com o bico apontando para todos os lados. E tudo se fez normal. Como é a vida. Sem cofres, sem chaves, apenas com o grande tesouro inexplicável guardado.
Poesia em linhas retas e perfeitas.