Rogério Distéfano
VAMOS E VOLTEMOS, democracia é isso, pode ser boa para nós e ser ruim para nós. Democracia em que nos damos bem e o adversário se ferra não é democracia. Pode ser oligarquia, pode ser ditadura. Dilma caiu, regozijo de coxinhas, revolta de mortadelas. Normal. Temer sobreviveu, revolta de coxinhas e mortadelas, raro momento de concordância.
O mundo não acabou, é que nem futebol, tem o jogo da volta. A vitória de Michel Temer no TSE encerrou o campeonato? Não. No sistema de pontos corridos o presidente ganhou seus três pontinhos. O campeonato continua, não obrigatoriamente até 2018, quando Temer e seus asseclas e Lula e suas gleisecas pensam levar a taça.
A política no Brasil está como a CBF: investigada porque dominada por gatunos. Podemos ter abatimento, não abandonar o jogo. Depois do jogo vem a ressaca. Ressaca de bebida cura-se com Engov, Sonrisal, Metiocolin no chope, ovo cru, suco de tomate com molho inglês. A cívica é atenuada com o título de eleitor. Atenuada, porque a democracia tem vocação suicida.
Culpar o TSE? Não. Observem a diferença no placar, 4×3. Reflitam comigo: 1) apesar dos pesares, a justiça eleitoral tem funcionado no Brasil; 2) um voto de diferença, o do ministro Gilmar Mendes, não desqualifica o resultado; o ministro exerceu sua função com a independência dada aos juízes, igual à dos outros 3. Importa o quase empate.
O quase empate retrata o Brasil urbano, dividido ao meio, agora a depender de um peso para equilibrar ou desequilibrar, como aqueles da balanças de feira de antigamente, o quilo ou fração que era posto no prato das hortaliças para fechar a conta. Gilmar Mendes foi essa fração no prato das hortaliças. O ministro está para a Justiça como Romero Jucá para o Legislativo.
O que se imagina pela frente? A dinâmica desencadeada pela Justiça Federal – a federal, porque as estaduais vivem como Inês de Castro, no engano cego a gozar o doce fruito. A dinâmica do bravo ministério público e da polícia federal em raro e impensável momento de autonomia – à espera do tacape retaliatório de Torquato Jardim, ministro da Justiça.
O TSE apresentou-nos o jogo das instituições. Que nem sempre é do nosso agrado, como nos jogos em geral. Nosso desagrado pode ir da irritação da derrota ao quebra-quebra no estádio, como huligans políticos. O que nos resta é dar força aos fiscais da lei no combate às aves de rapina que se repastam na miséria do povo e do contribuinte.
A CEIA DOS JUDAS Após o julgamento no TSE, a vitória de Michel Temer foi comemorada em jantar na residência oficial de Rodrigo Maia, presidente da câmara dos deputados. Quem pagou os comes e bebes? Os otários da nação, nós outros. Os mesmos que pagaram o abajur do Jaburu no encontro entre Michel Temer e Joesley Batista.
Depois de tanto stress e milhares de páginas o TSE como o nosso Judiciário fez o que tinha que fazer, decidiu pelo pior. Acreditar-se que a cassação da chapa Dilma/Temer seria por fogo no circo de uma vez por todas, é uma estupidez. Agora veremos um governo mendigando votos, um a um e, as tais necessárias reformas tão necessárias sumirem no horizonte. O presidento vai sangrar até o último dia de mais um governo Sarney, o segundo da nossa história republicana, um governo para se esquecer e que ainda nem acabou.