por Ticiana Vasconcelos Silva
Todos os dias, a toda hora, ia ao quarto anexo fumar com o receio criado por um vizinho malcriado que a xingava de vez em sempre por causa da fumaça inocente que subia a seu apartamento; tão inocente quanto o pensamento dela de que aquilo não a iria matar um dia. Ficava quieta. Não revidava, pois sabia que a pressão só iria aumentar a angústia que sentia toda vez que ia àquele quarto, seu refúgio. Até que um dia lhe veio o temor maior: a morte. Por causa do cigarro. Não um câncer, um infarto ou uma úlcera, mas um tiro à espreita da janela do vizinho em sua cabeça. Tiro que iria matar de vez aquele pensamento de que o cigarro lhe dava a sensação de paz. Não teve mais paz e, de hora em hora, a morte a acorda para a vida.