por Célio Heitor Guimarães
Nunca fui um católico praticante como devem ser os católicos de verdade. No entanto, fui batizado – meio às pressas, é verdade, ainda no hospital, porque os médicos não me davam muita esperança de vida na ocasião –, frequentei aulas de catecismo, fiz a primeira comunhão e casei-me na igreja católica. Tudo isso foi repetido, mais tarde, por meu filho. Com uma vantagem a mais: ele foi também crismado.
À igreja vou quando me dá vontade. Normalmente, é um local silencioso, arejado, bom para pôr os pensamentos em ordem. E nesses quesitos o templo do mosteiro dos frades trapistas, de Campo do Tenente, nos arredores da nossa Lapa, é imbatível. Recomendo com entusiasmo.
Às vezes, sou também obrigado a comparecer a cerimônias religiosas de núpcias, fúnebres ou de formatura. Juro que chego sempre com a melhor das intenções. Penso: quem sabe é hoje que eu me reencontro com a fé católica. Pura ilusão. Não tem jeito. Basta o sacerdote começar a recitar aquela lenga-lenga incompreensível e, em regra, totalmente inadequada para o momento, e a dar andamento a um ritual antiquado, tortuoso e desagregador, e lá se vai toda a minha boa-vontade. Quando entram as cantigas dos fiéis – pobres trovas sem conteúdo e sem graça – sinto-me profundamente incomodado, e se o oficiante passa a ameaçar os presentes com a fúria divina e castigos dos céus, bato em retirada.
Há muita coisa bonita no ritual católico. Tinha mais ainda quando era usado o latim. Não se entendia nada, mas que era bonito, solene e musical, era. Tinha-se a impressão que Deus compreendia melhor as nossas preces. Sofri muito com o latim, no ginásio, no colegial e no vestibular, mas concordo que na missa ele era perfeitamente adequado.
Outra beleza é o repicar dos sinos, prática também quase em desuso hoje em dia. O meu querido e saudoso Rubem Alves, que teve educação protestante, dizia que se fosse papa, ordenava que os sinos fossem tocados três vezes ao dia: às seis da manhã, ao meio-dia e às seis da tarde. “Os sinos fariam o corpo se lembrar de Deus mais que muitos sermões” – garantia ele.
Minha neta Fernanda, que acaba de completar 12 anos, domingos atrás fez a primeira comunhão. Linda, vestida de branco, com uma tiara de flores na cabeça e muitos sonhos no coração, parecia um anjo. Antes, porém, submetera-se à chamada “catequese”. Espero que não tenha sido atingida pela descarga perversa de preconceitos e superstições comuns nessas ocasiões. Que bom seria se a catequese fosse representada pela liberdade, pela verdade, pela beleza, pelos bons exemplos, pelas flores, pelos pássaros, pela música – porque, como também acreditava o Rubem, “Deus não está na letra; está na música”. É preciso deixar que a beleza catequize as crianças e evangelize o mundo.
Certa vez, lá na Serrinha do Alambari, na encosta da Mantiqueira, na junção dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde Cleonice e eu costumávamos passar as férias de julho, um fato atraiu-me a atenção: no topo de uma ladeira, em uma pequenina igreja, tosca, caiada de branco, sem bancos nem imagens, onde cabiam, se tanto, vinte pessoas, celebrava-se a “santa missa”. A oficiante era uma mulher, leiga e de feições humildes. Limitava-se a conduzir as orações.
Foi, talvez, a mais bonita e tocante cerimônia religiosa a que assisti. Fé pura, sem aparatos, ameaças e prosopopeia. Eram poucos os presentes. Mas Deus, com certeza, estava lá.
Célio, meu caro, que texto maravilhoso.
Por Deus do céu: eu ainda vou aprender a escrever que nem o Célio.
E Ele é testemunha que estou tentando. Faz quase 40 anos … e não desisto.
Bitte
Existem por ai nos grotões lindas ermidas abandonadas,aqui perto de londrina tem uma delas,ali na “água da esperança”que virou uma vila fantasma.
Prezado Celso Heitor,
Em primeiro lugar parabenizo-o pela primeira comunhão de sua neta. Um momento marcante na vida dos cristãos católicos.
Sugiro que ofereça um presente ela: o livro YOUCAT Brasil, o catecismo jovem da Igreja Católica.
Para conhecer a íntegra do catecismo católico, recomendo a leitura em:
http://www.catolicoorante.com.br/cic/www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html
Que tal surpreender sua neta e convidá-la para ir à missa com você no domingo?
abraços,
Belo texto, parabéns. Tema para reflexão.
Mestre Celio Heitor:
Seu texto é um alento para todos nós, desde a netinha de 12 anos que se prepara para enfrentar a vida moderna, com todos os riscos, até os “vovôs” de raros cabelos já encanecidos…
E, mais: você é uma prova da existência de vida inteligente! Grande abraço…
Obrigado pelo carinho e pela generosidade de todos.
Recado ao Bitte: Você não precisa aprender “a escrever que nem o Célio”. Você já escreve muito melhor!
Um forte abraço a todos.