ROGÉRIO DISTÉFANO
Insurreição em Brasília. Manifestantes incendeiam ministérios em protesto contra as reformas do Congresso e a permanência de Michel Temer. Não justifica. Mas explica. É o limite de saturação contra a desfaçatez, o cinismo e o descaramento dos políticos, que de um lado impõem sacrifícios ao povo e de outro obtêm benefícios imorais via propinas e corrupção. Que seja só desta vez, porque o Estado se põe acima da indignação contra seus gerentes.
Why not? O nome do iate de Joesley ‘Friboi’ Batista, o açougueiro grampeador de Michel Temer. Joesley incluiu o iate – dois motores de 2.600 HP cada, velocidade de 33,4 nós por hora – no acordo de leniência com PGR e STF.
As redes sociais fervem, indignadas com o nome, ‘por que não?’ em português. O problema não está no nome, nem no barco; o problema está no acordo.
Se é para ficar indignado, que dizer dos pedalinhos do Sítio de Atibaia batizados com os nomes dos netos de Lula? É só uma questão de escala. E de gosto. Why not?
Se é para meter fogo, o entendimento entre Lula e FHC para a transição do governo Temer merece mais fogueiras que as contra a reforma em Brasília. Que autoridade têm um e outro para ditar os rumos do Brasil, eles que são em não pequena medida responsáveis pela crise.
A corrupção é mãe lactante do caixa dois eleitoral, que serviu primeiro às campanhas do PSDB e depois para as do PT. Uma seletividade inexplicável preserva FHC das investigações enquanto são flambados Aécio Neves e José Serra, os dois maiores nomes do partido.
Quanto a Lula, é ocioso lembrar o que causou com mensalão, petrolão, dilmão. Se Lula e FHC dois se metem na transição pós Temer e ninguém chia seria aceitar o rufião saneando o bordel.
O PT reuniu-se na semana para estabelecer conduta para a eleição do substituto de Michel Temer. Presentes os que sobraram: Lula, os irmãos Viana, Fernando Pimentel, Jaques Wagner, Gleisi Hoffmann.
Ausentes, por motivo de força maior, Antonio Palocci, João Vaccari Neto, André Vargas e José Dirceu. Como escreveu uma vez Hélio Fernandes, no seu jornal ‘Tribuna da Imprensa’, após noticiar a reunião entre dois ministros do governo da ditadura: “… e a polícia não apareceu”.
Um sorridente Sérgio Cabral prestou depoimento ao juiz que conduz desdobramento da Operação Lava Jato. À pergunta inevitável sobre as joias da mulher respondeu que as comprou com as sobras de sua campanha eleitoral. Então ele só roubou de si mesmo. Pode? O dinheiro era dele?
Senadoras do PT, entre elas nossa Gleisi Hoffmann, armaram barraco ontem na Comissão de Assuntos Econômicos, ao protestarem contra a reforma trabalhista. Aquelas damas gritavam, puxavam braços e paletós de senadores adversários.
Não há registro de arranhões e camisas rasgadas. Das senadoras morenas não sobressaíram faces afogueadas (anos inteirados espero para usar o adjetivo) e veias do pescoço tão saltadas quanto as da senadora paranaense.
Ao vê-las, ocorreu-me chama-las de Damas da Central (do Brasil, a agitada e popular estação ferroviária do Rio de Janeiro). Esse era o apelido imortal da imortal Aracy de Almeida, famosa pelo azedume e pela grossura.
Mas seria injusto. Não com elas, sim com Aracy, que só era azeda e grosseira para efeitos cenográficos. E esbanjava aquilo que falta às senadoras: talento.
“É o limite de saturação contra a desfaçatez, o cinismo e o descaramento dos políticos, que de um lado impõem sacrifícios ao povo e de outro obtêm benefícios imorais via propinas e corrupção. ”
1. E o limite? Depredar prédios públicos é além de um crime uma burrice sem tamanho, isto não prejudica o político que eles odeiam; os prédios não pertencem “a este governo”. Este governo, eleito pelos mesmos que ontem protestaram, passará, assim como o anterior passou; mas o bem público terá que ser reconstruído e isto custa dinheiro. De quem? Do povo, que paga impostos.
2. Cinismo é usar uma manifestação contra um governo corrupto visando trazer de volta outros corruptos que até ontem eram amigos. Cinismo é esconder que entre outros motivos está não acabar com as “contribuições sindicais” obrigatórias. Você já tentou fazer o pedido para não contribuir obrigatoriamente? Vai no Sindicato e tenta. Verá como será tratado.
3. Os mesmo políticos que impuseram um desemprego de 13 milhões de pessoas ontem estavam lá ao lado destes que “protestavam”, isto não é cinismo? Desfaçatez? Descaramento? Os mesmos políticos que há pouco tempo apoiaram o uso das forças armadas num leilão da ANP e agora berram porque o exército apareceu por lá? Pois é, isto é cinismo, desfaçatez e descaramento ou não?
4. Das propinas então nem dá para falar, todos ali receberam e foram eleitos graças a propinas, sem exceção.
5. O povo não é aquilo ali, o povo detesta bagunça e crimes na mesma proporção que detesta políticos.
O que havia ali ontem eram os mesmo aproveitadores de sempre, usando a mesma massa de manobra imbecil de sempre, apoiados pelos mesmo de sempre há décadas. A começar por sindicalistas que de atividade extra virou profissão e lucro em causa própria.
E a adorada gleisi hoffmann é só um esbirro grosseiro de alguém que um dia deve ter acreditado que poderia mudar o mundo, conseguiu, para pior.