por Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado
O Marcos Prado era curitibano – pobre e beberrão. Imaginem o inferno que foi viver justamente na cidade mais conservadora do sul do cu do mundo. Aqui, para viver, artista tem que pedir por favor. Cidade má para com seus mais dotados, só dá valor quando o sujeito morre ou prestes a ir para o bico do corvo. Mas o Marcos não estava nem aí para essa cambada sem alma.
E escolheu, entre as muitas, a Curitiba que amava. Viveu como um dândi. E a mulherada fazia fila para entrar debaixo do seu cobertor. Genial, polêmico, Marcos Prado tinha um parceiro em cada canto. Ele, o canalha perfeito, capaz de fazer qualquer um rir a noite inteira e nem perceber que acabava pagando toda a bebida.
Tudo a seu redor respirava uma atmosfera de poesia e encantamento. Ébrio ou sóbrio, levou a vida além dos limites. E riu como poucos riram da mediocridade curitibana. Bebedor voraz, fumante insaciável, poeta em tempo integral. Prado é destes poetas que tiveram a coragem (ou imprudência?) de impregnar a chama eterna da poesia que tanto amava com os fragmentos descartáveis da vida. Clássico contemporâneo, lírico cibernético, épico barroco?
Ei-lo, inteiro, o nosso saudoso poeta que, como seus iguais, absorveu todo o bem e o mal-querer destes séculos e, em vez de expressar desencanto, cinismo, morbidez e tristeza, conseguiu ir além e nos brindar com a saúde dos seus poemas, esses frutos vivos que, certamente, têm polpa, seiva e caroço suficientes para atravessar, com sabor, os séculos futuros.