ROGÉRIO DISTÉFANO
Estava tudo pronto: maquiador, continuísta, claquete, diretor de fotografia, editor, iluminador, elenco de apoio, diretor da fita. Só não deu tempo de preparar o cenário, pois a agenda de filmagem vinha incerta. O produtor executivo queria algo branco-e-preto, gênero film noir, algo nouvelle vague. Acontece que o ator principal, sentindo-se um Marlon Brando, meteu-se a dar pitacos na produção.
Não será nesta, nem será nas seguintes 86 tomadas, apenas com o elenco, que a produção terá o requinte exigido pela entourage do ator principal. Entourage, em tempo, vem do francês, e significa equipe, turma, grupo; pode ser traduzida, conforme o caso, para pandilha, quadrilha, malta, asseclas. O enredo original da película legitimava esta última tradução.
Cinema, pensa a maioria, é arte do diretor, do roteirista e dos atores. Pode ser, mas primeiro que tudo, é indústria, e indústria busca o produto bom para o mercado, a custo competitivo, que dê lucro. Portanto, quem manda no filme é o produtor e não é raro que ele decida retalhar o filme, deturpando o que fizeram diretor e roteirista. Ou mesmo deixe o filme na prateleira, fora do mercado.
É o que acontece hoje na locação da avenida Anita Garibaldi. O astro tinha tudo preparado, falas memorizadas, até a improvisação ensaiada (!). O produtor decidiu que não haverá filmagem, mas audição com fotos, rápidas, na verdade um teste para possível filmagem. Decisão peremptória, autoritária, do produtor, que só não poderá impedir, fora do set, gritos e vaias ao consagrado ator.