Dei uma marretada bem entre os olhos do porquinho. Ele não disse ai, não latiu, não grunhiu, não zurrou. O martelo era dos bão. Daqueles velhos. Deve ter macetado uns quinhentos dedos durante a existência. O porque ficou despedaçado em cima do tapete. A cena do boi sendo cortado ao meio por um facão e tanto em Apocalipse Now veio à mente. Por que? Aqui não teve o horror. Dentro do animal 619 moedas de um real. A única poupança que fiz na vida. Fiquei orgulhoso. Lembrei do agiota que me salvou algumas vezes. Ele repetia sempre a fórmula de uma vida precavida financeiramente: 33% guarda; 33% para as despesas da casa; 33% para o lazer. Um dia eu disse que nunca me sobrou o 1% e nunca tratei da relação com o dinheiro no psiquiatra, mesmo porque ele me leva boa parte do salário. Joguei as moedas em sacos de supermercado. Vou trocar e não sei o que vou comprar. Um outro cofre de barro, com certeza, mas bem maior. Quero ter a mesma surpresa. Qual. A de esperar para dar uma marretada bem no meio dos olhos dele.
Gostei.