por Bernardo Mello Franco
A cada nova delação, cresce a aposta dos políticos numa anistia ao caixa dois. A ideia ganha força em Brasília, mas há quem acredite que seu efeito será o oposto do esperado. É o que alerta o deputado Jarbas Vasconcelos, 74, uma das vozes mais experientes da Câmara.
Para o peemedebista, os colegas pensam ter encontrado a fórmula da sobrevivência, mas estão caminhando na direção do precipício. “Falar em anistia é um suicídio coletivo do Congresso. Isso seria um desastre”, afirma. “Estamos vivendo um momento muito perigoso. Na política, um passo em falso como esse dificilmente se recupera depois.”
A anistia aos delatados é o que falta para detonar uma nova onda de revolta contra o sistema político, avisa Jarbas. Ele diz que os colegas deveriam se importar com a irritação da sociedade, mas só pensam em escapar da Lava Jato. “Hoje a maior preocupação é se salvar. Quando a pessoa entra nessa situação, qualquer coisa passa a ser válida”, afirma.
Aos olhos do peemedebista, a Câmara vive “entre a perplexidade e a pasmaceira”. “Estamos na metade de março e as comissões nem sequer foram constituídas. Está tudo paralisado”, critica. “E isso é porque só uma parte da lista do Janot vazou. Ainda vai piorar”, acrescenta.
Apesar de esperar uma enxurrada de inquéritos no Supremo, Jarbas não acredita na abertura de processos de cassação contra os delatados. Ele diz que o espírito de corpo tende a prevalecer entre deputados do governo e da oposição. “Se acontecer alguma coisa, será positivo. Mas acho que não vamos ter consequências no Conselho de Ética”, prevê.
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A delação do fim do mundo emudeceu alguns dos políticos mais falantes do Congresso. Para explicar o fenômeno, o deputado Heráclito Fortes lembra uma máxima repetida por Vitorino Freire (1908-1977), raposa do antigo PSD: “Quando o pasto pega fogo, preá corre pro brejo…”
*Publicado na Folha de S.Paulo