6:24A Sanepar e as torneiras

Houve informação privilegiada no jogo das ações da Sanepar que limaram R$ 1.2 bilhão da estatal? Na Assembleia Legislativa do Paraná os deputados da oposição apostam que sim – e vão denunciar a possível treta à Comissão de Valores Imobiliários (CVM) na Bolsa em São Paulo (ler abaixo). Essa “prática” é quase tão antiga como andar pra frente, e só os amigos do rei participam porque não se pode ficar espalhando por aí que, por exemplo, uma ação da indústria estatal de rapadura vai para o vinagre no dia seguinte graças à desvalorização do preço da cana de açúcar no mercado de Chicago. Um ou dois telefonemas do tipo “venda tudo” – e estamos conversados, afinal, até então o doce que alimenta a alma estava em franca ascensão desde que o manda-chuva avisou que iria aumentar o capital da empresa rapaduresca estatal. O povo precisa saber disso? Não, até porque não joga na Bolsa e o bolso sempre está guardando os dedos das mãos, mais nada. No Brasil de hoje estão descobrindo o que sempre existiu – e aqui não ficamos neste caso que, no fim, com quase toda certeza, ficará como um registro nos arquivos eletrônicos dos jornais. A calhordice da discussão atual sobre as doações para o Caixa 2 das campanhas prova isso. Com os traseiros na reta pelo simples fato de que a lei é clara ao afirmar que o dinheiro doado desta maneira pelos donos da bola é ilegal, políticos gregos e baianos se abraçaram na defesa da prática. Nisso os petistas estão agarradinhos com tucanos e recebem apoio até de ministro do STF, etc. Por que não instituem a falcatrua em lei é uma questão ainda não resolvida. O argumento é um só: sempre houve. Pois é… sempre houve repasse de informação privilegiada por baixo do pano verde das negociações de ações na Bolsa, desvalorização ou valorização da moeda em relação ao dólar, etc.O caso da Sanepar é mais um. Se for confirmado, ficará provado que a torneira da grana foi aberta para alguns, como sempre. À ninguenzada resta cuidar para fechar as torneiras da casa, aquelas, que vertem água. Porque a conta está cada vez mais salgada.

Informação privilegiada teria protegido grupo de acionistas de queda nas ações da Sanepar

Movimentação incomum na véspera do anúncio de medida que tombou as ações da companhia fez a oposição ao governador Beto Richa (PSDB) na Assembleia fazer denúncia à CVM

    • Euclides Lucas Garcia

A bancada de oposição ao governo Beto Richa (PSDB) na Assembleia Legislativa do Paraná vai denunciar a Sanepar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por suspeitas de que alguns acionistas da empresa tenham recebido informações privilegiadas para negociar ações na bolsa de valores. Na última quarta-feira (8), um dia antes de a companhia informar ao mercado que dividiria em oito anos um reajuste extra de 25,63% na tarifa de água, a quantidade de ações negociadas foi quase três vezes maior que a média de fevereiro. Para os oposicionistas, o volume atípico leva a crer que investidores se desfizeram dos papéis pois sabiam de antemão que o anúncio do aumento parcelado não agradaria o mercado no dia seguinte.

Considerada “o call da década do setor de utilities”, a Sanepar virou a “queridinha” da bolsa depois de uma oferta de ações que movimentou R$ 1,98 bilhão em dezembro. Os papéis da empresa chegaram a subir 50% desde então, alavancados, principalmente, pela promessa da companhia aos investidores de que haveria uma revisão de 14% na tarifa já em 2017. Ainda mais otimista, o banco BTG Pactual estimava um aumento de 26%, a ser parcelado em no máximo quatro anos devido a aspectos políticos.

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A expectativa, porém, caiu por terra às 9h10 da última quinta-feira, quando a Sanepar comunicou ao mercado que o Conselho Diretor da Agência Reguladora do Paraná (Agepar) decidiu reajustar a tarifa de água em 25,63% ao longo de oito anos, começando com uma parcela de 5,7% em 2017 – o restante será repassado nos anos seguintes com correção pela Selic, a taxa básica de juros da economia.

Outro lado

No entanto, um dia antes do comunicado oficial à bolsa a respeito da decisão da Agepar, pouco mais de 12 milhões de ações da Sanepar foram negociadas. No mês de fevereiro, por exemplo, a média diária de volume de negócios foi de 4,4 milhões de papéis. Além disso, desde a oferta maciça de ações em dezembro, a maior movimentação havia sido de 10,6 milhões de papéis no dia 19 de janeiro.

Com o grande volume de negociações, as ações da companhia paranaense caíram 6,22% na última quarta. No dia seguinte, já com o anúncio oficial do reajuste escalonado da tarifa de água, a queda foi ainda maior: de 17,71%. Os papéis da empresa, que chegaram a valer R$ 14,95 em fevereiro, fecharam a quinta-feira passada (9) em R$ 11,15 – na segunda-feira (14), valiam R$ 11,99.

Suspeitas

O número de ações negociadas na véspera do comunicado ao mercado levantou na oposição a suspeita de que alguns acionistas da Sanepar sabiam previamente que o parcelamento do reajuste derrubaria os papéis da empresa. “Quem vende as ações na quarta-feira se a expectativa na bolsa era que elas chegassem a pelo menos R$ 17? Deu a louca nos investidores e eles decidiram vender assim, do nada? É evidente que não. Eles venderam porque tinham informações privilegiadas. Alguém sabia mais do que todo mundo. E isso é crime”, afirmou o líder oposicionista, deputado Tadeu Veneri (PT).

O petista também ressaltou a declaração de um acionista da Sanepar em uma conferência de emergência com a companhia na última quinta, na qual disse: “quando o estado do Paraná e a empresa vieram pedir dinheiro para o mercado, a postura era uma. Agora que pegaram o dinheiro, a postura é outra, falam que tem questão política e tudo mais. Sinto que fui lesado”. Para esse investidor, a CVM deveria “tomar medidas legais”, pois a empresa teria inflado as expectativas ao mercado.

“Que informações foram essas repassadas aos investidores? Que iriam reajustar a tarifa de água em 26%? Isso tem nome: informação privilegiada”, afirmou Veneri.

 

2 ideias sobre “A Sanepar e as torneiras

  1. Sergio Silvestre

    Tenho um amigo que nunca trabalhou na vida,arrumou 100 mil reais de uma herança a uns 20 anos e transformou isso em uns 10 milhões.Te pergunto,se ele ganhou tudo isso especulando,quem pagou?
    É uma das coisas que eu não engulo é isso,bolsa de valores.

  2. Rogério Distéfano

    Como diria o Shakespeare, “muito barulho por nada”. Drama demais para uma corriqueira questão puerperal: a Sanepar rompeu a bolsa mais cedo. E pariu gente rica. Não me surpreenderia se entre os recém nascidos viessem gêmeos.

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