por Leão Serva
Os católicos que foram a missas desde a Quarta-feira de Cinzas notaram que a Igreja no Brasil está bem preocupada com a destruição do meio-ambiente no país. Pelo segundo ano consecutivo, a entidade dos bispos (a CNBB) alerta para a urgência da preservação do planeta e dos biomas brasileiros na Campanha da Fraternidade, realizada anualmente nas semanas que antecedem a Páscoa.
Não é para menos: a devastação das florestas brasileiras voltou a disparar depois de uma queda entre 2005 e 2010. A redução desse período serviu como uma luva para a propaganda da candidatura presidencial de Dilma Rousseff, em 2010, mas, como tudo em seu governo, era falsa. Tanto que, ao se candidatar à reeleição, em 2014, impediu o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) de divulgar os números de desmatamento da Amazônia, para evitar que a mentira se tornasse conhecida da opinião pública. A omissão forçada de estatísticas oficiais não teve até hoje a punição devida.
Como já disse no passado em dois artigos para a Folha, sobre a devastação da Amazônia, com o mesmo título de hoje (em 2011 e em 2014 ), o jornalismo não tem se revelado um meio eficiente para alertar a opinião pública da urgência da ameaça. Agora mesmo, enquanto todos os olhos se voltam para Curitiba, o agronegócio brasileiro volta a golpear nosso maior patrimônio natural como “nunca antes na história deste país”…
Ao longo dos séculos anteriores, a exploração destrutiva fazia mal à floresta, mas, de tão grande, ela dava sinais de resiliência. Nos últimos anos, no entanto, o sistema climático amazônico dá sinais de falência, como alertou em 2014 um dos seus maiores estudiosos, o cientista Antônio Nobre (do INPE). Até aquele ano, mais de 40% da Amazônia já tinham sido destruídos de forma irreversível.
Entre outros sintomas, a capacidade de reter água na floresta e devolver grande parte dela para o ar na forma de chuva se rompeu, o que explica as inéditas secas na Amazônia (2005 e 2010). Também estão ameaçados os chamados “rios aéreos”, que transportam chuvas para o Sudeste pelo vento. E isto causou a longa crise hídrica que enfrentamos por vários anos.
A maior ameaça hoje é a indução da destruição pela série de grandes obras iniciadas nos governos Lula e Dilma, das quais Belo Monte está longe de ser exemplo único (o plano oficial prevê cerca de 100 hidrelétricas) ao mesmo tempo em que o Ministério do Meio-Ambiente sofre com uma série gestões fracas, que evitam o enfrentamento.
O resultado é expresso pelos números oficiais: a eliminação total da floresta correspondeu a cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo (uma das maiores e mais espalhadas do mundo) e a curva aponta para cima: o crescimento é o maior desde o ano 2000.
Quem acompanha os estudos do INPE vê que as áreas indígenas são as únicas que resistem à devastação. Para eliminar esse último bastião, o governo Temer nomeou um ministro da Justiça que, depois de criticar a Lava Jato, atacou os direitos indígenas que tem por missão preservar.
Se a imprensa, a opinião pública e os políticos preocupados com o ambiente não conseguem reverter essa destruição suicida, quem sabe a Igreja alerta a Deus, que dizem ser nosso compatriota, sobre o que o Brasil está fazendo com a Amazônia e outros dons da Criação.
*Publicado na Folha de S.Paulo