Pela “apropriação cultural” nossos negros, mulatos e pardos não falariam português, cultura branca. E nós, brasílio-branquelos, acabaríamos interditos ao sotaque brasileiro, cultura negra, graças a Deus.
Rogério Distéfano
DEU NA INTERNET: a moça branca, com turbante na cabeça, foi repreendida pela moça negra, sem turbante. “Esse turbante é tradição negra. Você está fazendo apropriação cultural”. A moça branca responde, “sofro de câncer”. A quimioterapia levara seus cabelos. Com o respeito devido à moça negra, ela revela mais um delírio do politicamente correto.
O politicamente correto faz sentido até o momento em que invade o domínio da estupidez. Começou nos EUA, com os negros, que rejeitaram os depreciativos de ‘colored’ ou ‘black’ e impuseram o ‘african american’. Curioso que ‘nigger’, ofensivo se vindo de brancos, é comum no coloquial popular negro. Hoje se identificam com a expressão ‘of color’, o nosso felizmente superado ‘gente de cor’. Curioso que ‘nigger’, ofensivo se vindo de brancos, é comum no coloquial popular negro.
Não tem como segurar, o politicamente correto não é mais moda, aquele momento que entusiasma, irrita, cansa e vai embora. Temos de aceita-lo, engolindo em seco para escapar ao assédio da ignorância. Colhi na rede social dia destes a campanha contra a palavra ‘mulato’, depreciativa para o crítico, que quer bani-la do dicionário. Como ficaria nosso absurdo sistema de cotas raciais com isso?
Caso sério, totalitário, isso de policiar o dicionário, registro histórico da língua. Histórico, porque nele constam as variáveis do significado. Abolir um vocábulo atinge a cultura, literatura incluída: como entenderemos as obras do mulato Machado de Assis e outros? E se lá numa dobra de Aluísio de Azevedo, quarenta anos de hoje, alguém tropeçar na palavra, ausente do dicionário?
A moça que rejeita o turbante ofende a doença, ruim como o preconceito. No rigor da ignorância, não entende que a cultura é de todos, fenômeno social, e quem apropria valoriza e enriquece a cultura alheia. Vide o samba, vide o candomblé, não mais exclusividade dos descendentes do povo Ioruba, afro-africano da gema. Ou isso, ou banimos Noel e Chico do samba.
Excelente! Mas uma do Rogério que merece estar em um out door! Só que em preto e branco! Valeu muito a reflexão!
Na mosca, disse tudo e só quem for muito idiota ou alienado total pelo tal hipocritamente correto é que dirá algo desabonador. Parabéns.
Adoniram seria rejeitado no samba
Devo confessar que sou muito cético e tento não me impressionar com tudo o que leio nos jornais e redes sociais. Como crer nessa história ? Um adereço nos cabelos causaria tanto celeuma ? Espero estar enganado.