por Fernando Muniz
A respiração é ditada por um pulmão de aço, aquisição recente da unidade de terapia intensiva. Ali a menina repousa, transformada em escultura, bela em sua adolescência sem vincos ou celulite, com traços finos e perfeitos não fosse um hematoma na base do crânio e algumas escoriações nos cotovelos, sofridas ao cair da motocicleta do namoradinho.
Primeiro vão as córneas, pelas mãos de uma equipe metódica ao aplicar as técnicas mais avançadas da oftalmologia.
Seguem o fígado, os rins, o pâncreas e, ao anoitecer, chega a vez do coração e pulmões, embalados com esmero; mensagens de boas novas.
A noite cai. O pulmão de aço deixa de alimentar a moça. Bem a tempo de ser ligado ao namoradinho, que partiu após uma longa batalha no centro cirúrgico.