Rogério Distéfano
Requalificação da proposta. Entenderam? Duvido. Ao tropeçar nessa abstração fui adiante para entender: trata-se de tapa na cara do eleitor paulistano. A expressão foi produzida e divulgada em 2 de janeiro, dia seguinte ao da posse do novo prefeito, para escapar de uma das promessas de campanha: zerar a demanda de vagas nas creches. Ao saber do número – 120 mil -, o prefeito João Dória desbastou a promessa, reduzindo-a para 66 mil.
A isso inventivamente chamou “requalificação”. A promessa, de seu lado, virou “proposta”. Nada gratuito, coisa cozida em caldeirão de marqueteiro: promessa é compromisso, faz fronteira com o sagrado; proposta ė jargão de comerciante, o freguês aceita ou deixa na prateleira.
Mas o que significa “requalificação”? Não faz sinônimo com ‘reduzir’, ‘rever’, ‘readequar’ ou qualquer outro eufemismo de plantão. Dória não irá instalar as crianças no zoológico ou em motéis – isso seria “requalificação”.
Sejamos claros, objetivos, não paguemos tributo à ofensa do marqueteiro à nossa inteligência: requalificação houve, sem dúvida. Seja da promessa de campanha, seja do eufemismo da proposta. Se requalificar significa dar outra qualidade, aquilo que João Dória prometeu – ou propôs – na campanha passa a se chamar mentira, engodo, empulhação. E se o código penal autorizasse, estelionato eleitoral.
Tucanos não mentem jamais. Se os fatos não correspondem à realidade, então a realidade é inverídica. Cáspite?