O dia em que entrou na penitenciária para falar com o preso mais antigo daquela instituição, o cu apertou, como se diz nas quebradas do mundaréu. Naquele tempo ele encafifava numa coisa e ia atrás – até conseguir. Foi assim para voar de planador, apesar de se pelar em voar a jato. Andou por alguns corredores e tudo estava em silêncio e de aparência limpa. O colocaram na sala e lá veio o assassino condenado a 30 anos. A conversa foi amistosa e o preso jurou por todos os santos que estava ali por engano. Ele transmitia uma sinceridade adquirida nas celas para este tipo de ocasião. Sua folha corrida era um dicionário de crimes. Ele olhava direto nos olhos, mas de vez em quando mirava uma janela ampla daquele lugar que ficava no andar superior da prisão. Seu rosto era uma máscara vincada. O clichê de voar como pássaro entrou na conversa. Sim, claro que gostaria, mas precisava só andar a pé lá fora, coisa que não sabia mais como era. Na despedida, um aperto de mão. Parecia que tinha um garrote ali. Um dos que matou foi com as próprias mãos. Ao sair dali, livre, o que entrou para cumprir a missão imposta, respirou o ar fresco de um fim de tarde, fez o sinal da cruz e rezou para não voltar mais lá – de nenhuma forma.