Dei um tiro na bunda de Papai Noel – mas ninguém soube. Ele estava num outdoor e o buraco ficou na nádega direita. Foi numa madrugada dessas de dor no coração onde os pirados do mundo estavam em família e eu sozinho numa quebrada. Coloquei a doze de cano serrado no chão do carro e saí. Claro que lembrei de Feliz Ano Velho, mas não atuo em bando, não me drogo e não mato gente. Leio. Fonseca é Fonseca. Visceral, como diz um amigo. Mas o que eu queria era aliviar a angústia que essas datas me dá, apesar de eu nunca ter comemorado nem quando criança. Sim, houve uma vez, lembro do gosto de uma deliciosa rabanada e um vira-vira que fiz com outras crianças com o líquido de um garrafão que encontramos aberto. Vinho. Passagem de Ano. São Silvestre à meia-noite na tela de tv da sala de uma vizinha. A rabanada misturada com vinho saíram e forraram o tapete. Não lembro que idade tinha. Depois disso, durante toda uma vida, aconteceu o que me levou a dar uma volta no carro velho enquanto as luzes de todas as casas estavam acesas e gente gritando de alegria. Não entendo. Ao ver o tal velhinho fui lá e fuzilei o rabo dele. Voltei pra casa e dormi rápido. No outro dia não havia nó no peito. Foi um bom Natal.