No trânsito maluco do fim da tarde, um pequeno congestionamento e ele olha para o lado. Há uma grade que separa a calçada do quintal cimentado. Ali, uma pequena caminhonete parada e, ao lado, o casal. Ela, uma menina robusta de uns seis, sete anos. Ele, um garotinho de pouco mais de um ano e meio. Parecem irmãos. As roupas, surradas, demonstram que são pobres. Pobres? Ela, com esforço, segura o menino junto ao corpo, pela cintura, e baila girando, girando. Seu rabo de cavalo feito na cabeleira crespa balança. O menino olha para o alto, em êxtase. Ela cansa, coloca-o no chão e, imediatamente, pega em sua mão e vão dar um grande passeio em volta do veículo branco ali estacionado. Quando reaparecem, há um sorriso no rosto dela. O menino quer brincar mais. O carro da frente anda. O de trás buzina alucinado. Há um rio fétido logo adiante e uma favela. O casal ficou na retina e no coração. Para registro eterno.