Rogério Distéfano
DESCONFIO que estou na marca do pênalti deste blog. Não cometi atos de improbidade, de insubordinação ou qualquer outra falta grave. Descobri que tenho um defeito, o de ser. Não ser no sentido de existir, forma intransitiva do verbo, mas do ser transitivo, ser alguma coisa. Então o que sou? Na acepção do titular do blog, Roberto José da Silva, sou um parasita. Dos piores, um um simples nível abaixo das castas corporativas, dos políticos ladrões (relevem a redundância) e dos empreiteiros vampiros. Meu parasitismo é o de ser remediado, aquele cara que ainda pode pagar as contas em dia.
Até há pouco via com bonomia (resgatei a palavra de M. de Assis) e humor a campanha raivosa de ZB contra os ‘ricos’ que recebem remédios grátis do governo e chegam às farmácias em carros importados, as mulheres com bolsas Vuitton. Como o blogueiro não define o que significa ‘rico’, o normal básico da renda ou do patrimônio, tomo como parâmetros aqueles acima: o carro importado e a bolsa Vuitton. Então fui atingido, estou na categoria, ainda que autoqualificado de ‘remediado’: tenho um Hyunday 2014 de terceira mão e presenteei minha mulher com uma bolsa dessas – comprada no Paraguai.
Cheguei mesmo a desenvolver certo achaque persecutório. Hoje mesmo ao entrar na Farmácia Popular da Marechal, dei por mim usando óculos escuros, boné para esconder o rosto e a atitude suspeita de quem se sente seguido, observado, vigiado. Dentro da farmácia, em espera com a senha de atendimento, escondi-me atrás do jornal. Não posso viver assim. Logo, logo um desses xingadores de pseudônimo me entrega, com foto e tudo. Dou no pinote antes que o alfanje do justiceiro ZB me corte cerce (aprendi no ‘Enriqueça seu vocabulário’, da Seleções do Reader’s Digest). Antes ir pra rua que pagar remédio que me dão de graça.