8:13A MESMA LAIA

Rogério Distéfano

MINHA FAMÍLIA, gente do Interior, venerava juízes, promotores, nem tanto. De minha parte não gostava disso, ainda menino reprovava a adulação ao intelectual da roça, o homem diplomado que destilava latins e discursos incompreensíveis nos batizados. Meu pai sempre invocava intimidades com um doutor Antonio, um desembargador Francisco. Entre eles o doutor Costa Rodrigues, de história no Judiciário do Paraná, bons amigos, os dois.

Para não cansá-los nesta hora de abatimento cívico, mérito recente do Supremo, evoco esse amigo, a quem nunca chamei de ‘tio’. Doutor Rodrigues, ele ao volante, meu pai e eu de passageiros. Não lembro exato se ele corria ou se cometera infração, apenas do policial nos fazendo parar. “Documentos, por favor”. O doutor Rodrigues saca a habilitação, certificado e no meio a identidade funcional.

Estava acima da velocidade permitida, compreensível, carro novo, estrada vazia. Tempos pré Loman, o juiz pede o bilhete da multa. “Que é isso, doutor?”, diz o policial, “pode ir embora.” O juiz insiste na multa, um devoto cego da lei estrábica, quer saber o porquê do privilégio. A resposta diz muito sobre o dia de ontem, Senado e Supremo: “Doutor, eu sou polícia, o senhor é justiça. Somos da mesma laia”.

2 ideias sobre “A MESMA LAIA

  1. Zé Povinho

    Meu Deus do céu, mas isto deve ter se passado lá nos tempos em que se amarrava cachorro com linguiça, da Bizinelli, de preferência. Hoje juízes, advogados, promotores de justiça, fiscais, etc já vem com carteirada até mesmo antes de declinarem o próprio nome.

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