por Yuri Vasconcelos Silva
Na escuridão absoluta, o frio gela até o miolo do osso. Com atenção, percebe-se um tecido feito de finos fios, produzido por alguém não mais existente. Aproxime-se. Pequenas esferas suspensas se enfileiram – e em danças elípticas se agrupam. Cintilam com delicadeza em milhares de cores. Um pouco mais perto. O silêncio ainda reina, mas as luzes explodem em névoas, esferas, jatos e calor. Um evento extraordinário onde torres semeiam novos mundos. Honraria presenciar tal festa. Aprochegue-se. Num canto sem importância, há um novo baile. São bilhões e bilhões de lâmpadas acessas, cada qual com seus próprios pares. Se ainda mais perto chegar, verá que uma vela amarela suburbana protege um pequena e esquecida joia. A terceira rocha circundante é de mármore azul polido. Agora o silêncio se desfaz. São gritos, repetições, urros e sussurros em variadas frequências. Escolha uma fonte e prossiga. Aqui está. Ele está sorrindo enquanto olha para seu pequeno. Diz palavras doces, mas sua mente por vezes escapa para as piores imagens, pesadelos inexistentes que alteram o batimento cardíaco. Ele pensa na finitude. Não a dele, mas a do seu filho. Para ele, a aflição sempre surge com a felicidade. Teme que alguma tragédia menor ou maior se precipite sobre sua alegria. Ele sabe, afinal, que a alegria ou a dor é um fluxo que nunca estanca. E o fim está, minuto a minuto, aproximando-se para ele ou alguém. Como é triste, ele pensa, nascer para apenas morrer. Que maldade é saber disso. Enquanto brinca com seu pequenino, suas mãos procuram o menor dos bolsos em sua calça. Um par de esferas comprimidas esbranquiçadas são levadas à seco até a boca. Lítio. Composto pelo mesmo mineral que um dia esteve enterrado em alguma montanha. E um outro dia esteve ainda mais fundo sob o solo, após um tempo flutuando em meio a outros elementos químicos no silêncio do espaço. Um pouco antes foi parte de uma estrela prestes a explodir. E, antes de tudo, apenas o vazio e a paz do nada. Longo e tortuoso processo para apenas produzir pessoas aflitas e antidepressivos.
*Yuri Vasconcelos Silva é arquiteto