8:47Deputado Ney Leprevost diz não ser de esquerda, direita, liberal ou estatista, mas da ‘política do bem’

Da Folha de S.Paulo em reportagem de Estelita Hass Carazzai

No meio da entrevista com o candidato Ney Leprevost (PSD) –deputado estadual que começou a eleição como azarão e chegou ao segundo turno na disputa pela Prefeitura de Curitiba–, um copinho de café caiu na mesa.

São apenas algumas gotas. Mas, enquanto responde que quer reduzir o tamanho da máquina pública e cortar mordomias caso eleito, o deputado de 42 anos pega uma folhinha de papel e começa a limpar a sujeira.

Dois assessores estão na sala, mas ele não chama nenhum. Devagar, dobra o papel e o coloca dentro do copinho caído, que afasta para o canto.

Leprevost admite que tem mania de limpeza. Vestindo camisa azul e de cabelos repartidos com gel, rejeita, porém, o rótulo de conservador.

“Eu transito bem na elite, mas não sou de elite.”

Nascido num bairro de classe média em Curitiba, Leprevost vem de uma família tradicional. Seu avô foi prefeito de Curitiba e procurador-geral do Estado. O tio, deputado federal. Atualmente, é o único que seguiu carreira na política, onde começou aos 22 anos, como vereador.

Se eleito prefeito, cargo que disputa contra o ex-prefeito e ministro Rafael Greca (PMN), promete ir trabalhar com o próprio carro, “para dar o exemplo” e fazer uma “gestão ficha limpa”.

Diz não ser de esquerda, nem de direita. Nem estatista nem liberal. É católico, porém, “não dogmático”.

“Sou um social-democrata”, afirma ele, que elegeu a saúde e a segurança como prioridades e elenca como sua proposta mais importante a “gestão inteligente”.

PEIXE FORA D’ÁGUA

Leprevost não imaginava chegar ao segundo turno.

Começou a campanha no pelotão de trás, com 7% das intenções de voto, bem atrás do líder Greca e do atual prefeito, Gustavo Fruet (PDT). Terminou em segundo, com 23% dos votos, contra 20% do pedetista. Greca fez 38%.

Na Assembleia, onde cumpre seu terceiro mandato, diz ser “um peixe fora d’água”.

Não almoça no restaurante da casa, é do bloco independente, foi favorável à saída da Mesa Diretora quando houve denúncias de corrupção e se elegeu majoritariamente com o eleitorado de Curitiba, “sem o apoio de nenhum prefeito”.

Atribui suas vitórias ao que chama de “corrente do bem”, formada por membros da sociedade civil que apoiam seus projetos, como ações de incentivo ao esporte, apoio a entidades beneficentes e a lei estadual da transparência.

Na campanha, Leprevost foi o único candidato que dedicou parte do horário eleitoral a elogiar a Operação Lava Jato, sediada em Curitiba –que ele chama de “a capital da ética”.

“Eu tenho uma admiração imensa pelo juiz Sergio Moro, pelos procuradores da República, pela Polícia Federal. Estou apoiando algo certo, algo honesto”, disse.

Na TV, o candidato exibiu fotos dele e da mulher nas manifestações contra a corrupção. Em seu comitê central, o jornal “República de Curitiba” dividia espaço com o material de campanha, semana passada.

Ele diz não ser antipetista, mas “anti-PT”. “Eu nunca concordei com a ideologia, nunca votei no Lula, nunca acreditei que ele fosse bem intencionado ou preparado para a função.”

Entre suas objeções ao petismo, cita o direito à propriedade como a principal. “A gente tem que respeitar a Constituição.”

Dos eventos que o levaram ao segundo turno, ele destaca, além do deslize do principal adversário (Greca afirmou em sabatina que vomitou com cheiro de pobre), o depoimento do apresentador Ratinho –pai do seu principal cabo eleitoral, o secretário Ratinho Júnior (PSD).

“Ele fez as pessoas prestarem atenção em mim, principalmente em alguns bairros onde talvez eu não fosse muito conhecido”, comenta.

Para Leprevost, sua eleição daria chance a “um novo grupo político” no Paraná.

Ratinho Júnior, apesar de integrar o governo de Beto Richa (PSDB), é um antagonista do tucano: concorreu contra seu sucessor na Prefeitura de Curitiba quatro anos atrás, e pretende disputar o governo do Estado, com ou sem seu apoio, em 2018.

O próprio Leprevost rompeu com o governador e o acusa de tentar “matar sua campanha por inanição” no primeiro turno, quando as pesquisas o apontavam num distante quarto lugar.

Para ele, sua candidatura representa “um novo jeito de fazer política”. “É uma política do bem”, define.

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