18:34A TV e a responsabilidade de formar cidadãos

Depoimento do diretor de cinema e tv Luiz Fernando Carvalho a Mauricio Stycer sobre seu trabalho à frente de “Velho Chico

“Não faço da televisão um bico. Acredito que ainda exista muita gente que depende de um espetáculo televisivo, de uma catarse televisiva, dos sentidos que uma narrativa possa tocar, sob o ponto de vista educacional até. Uma música, um enquadramento, uma atuação, uma fotografia…. Absolutamente todos os elementos que constituem a linguagem audiovisual são um modo de reeducar o olhar do espectador.”

“Trago este sentimento como uma missão maior, que vai muito além do que simplesmente arrebanhar telespectadores passivos. É uma entrega que caminha de mãos dadas com a responsabilidade de formar cidadãos.”

“Essa responsabilidade pelo imaginário do país é inevitável. Você tem um espaço de concessão pública, está entrando na casa das pessoas, um país continental, constituído por centenas de cruzamentos éticos e estéticos, um país ainda em construção. Faz-se necessário criarmos um vínculo de cumplicidade ética com essa responsabilidade. A ética é mãe dessa estética toda aí.”

“Toda e qualquer narrativa cumpre uma função mítica. As narrativas curam. São um objeto mágico. A televisão cumpre essa função, ocupando esse lugar na relação com quem assiste aos conteúdos. Não que as imagens sejam alienantes, mas que sejam emocionantes, vitais!”

“Não que sejam ditatoriais, oferecendo pouco diálogo com a imaginação de quem assiste, e que pregam: ‘Veja isso porque estou mostrando’.”

“O exercício sensível com a imaginação do espectador é que cria a sensação de verdade das novelas. Onde você coloca a câmera, o figurino, de como os personagens se relacionam no espaço e na luz, tudo isso é pra cutucar a imaginação do espectador, levá-lo ao mundo da imaginação narrativa, exatamente como quando lemos um livro ou ouvimos uma música.”

“É um processo muito delicado e muitas vezes impalpável, fugidio. Quando esse conjunto está em equilíbrio –coisa rara– os artistas cumprem sua função espiritual, com força capaz de retirar do mundo uma visão hegemônica, fria; uma noção de tempo e espaço muito limitada, produzindo consciência, desenvolvimento humano, curando o mundo de algumas dores.”

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