O espetáculo da democracia no Brasil é diferente. Hoje, por exemplo. Todo mundo ligado na Globo que transmite, ao vivo, do plenário da Câmara dos Deputados, um a um, os votos dos deputados que decidirão, nesta primeira partida, se o destino da presidente Dilma Rousseff vai ou não vai ser decidido no Senado. Nas ruas das cidades, os de verde e amarelo, chamados de coxinhas, e os de vermelho, carimbados como mortadelas, vão se manifestar de acordo com suas convicções, que não são bem assim, mas isso é outra coisa. O que se tem visto, entretanto, entre alguns apalermados dos dois lados é o confronto direto, o pé do ouvido, a pancadaria, o grito de “vou te esfolar”, etc. Bananão? Não, o buraco aqui é mais embaixo. Voltemos para a telinha da maior empresa de comunicação do sul do mundo, aquela que trocentos anos depois pediu desculpas em público por ter apoiado a ditadura dos militares, por ter sido contra o movimento das Diretas Já, este sim, algo com sentimento coletivo por uma coisa simples que veio pouco tempo depois – a liberdade. Sim, essa mesmo que está sendo confundida com libertinagem pornográfica, não no sentido sexual, mas de caráter que se espalhou na esteira desta coisa chamada internet, que é ótima, mas também perigosa, feito drogas no início do uso e que, depois, viciam o cidadão, como a esmola do Bolsa Família cantada muito antes do advento desta compra de votos. Um vício que está emburrecendo ainda mais um país de ignorantes, classificação que aqui não é pejorativa, mas constatativa, como diria Odorico Paraguassu, mesmo porque hoje temos, entre as hordas de um lado e do outro, analfabetos funcionais com diplomas universitários que se imaginam em torcidas organizadas, estas dos bandidos nos estádios, torcendo pelo que mesmo? Ah, sim, por estes cidadãos que vão declarar voto pelo decepamento ou não da cabeça da presidente, esta digna comandante do hospício que se revelou por inteiro nestes pouco mais de seis anos de mandatos, pois um poste inventado e deformado, que se desmancha feito o relógio da pintura famosa de Salvador Dali, enquanto seu líder, aquele, Lula, chora arrependido pela escolha, e toma mais uma para esquecer que se metamorfoseou de líder operário, esperança de um povo, em jararaca de araque, comprovando a tese dos urubus do andar de cima, a de que dar poder e dinheiro a pobre sempre dá merda. Pois hoje os representantes escolhidos pelo voto da ninguenzada vão discursar em trinta segundos, para dizer sim ou não, ou seja, para cortar ou não a cabeça da gerentona da loja de R$ 1,99, depois dos acertos todos envolvendo a grana que sempre entra no cofrão federal. E quem são eles? Quem espera desinfetar a cadeira da presidência para comandar o trem desgovernado desde que foi descoberto há 516 anos? Michel Temer, o vice, o que estava ao lado da sem cabeça, com a postura enganadora, presidente de um partido que é o mais fisiológico de todos; fisiológico que lembra outra coisa, mal cheirosa, mas é isso mesmo, porque este partido, que nasceu nobre, não passa de uma agremiação movida a puxassaquismo de quem está no poder, ganância, desfaçatez e, claro, traição, como se vê agora – em resumo, desprovido de qualquer caráter. E quem vai comandar o espetáculo da cadeira de presidente da “Casa de Leis”? Eduardo Cunha, psicopata esclarecido, cria de PC Farias/Fernando Collor, ex-aliado de quem quer matar agora, envolvido em escândalos de roubalheira desde que saiu do anonimato da carreira de economista e lhe deram uma chave de cofre público. Enquanto isso, essa outra coisa que acabou com a beleza natural do tucano, a ave, fica esperando para ver o que acontece – e seus líderes, representantes máximos da bom mocismo enganador, sem sal, com pegada apenas nas oportunidades em que enfiar a mão na grana alheia será feita de modo a não ser revelada, e com a conivência e proteção do patronado das famílias donas da chamada grande imprensa, esse PSDB engomado espera ter oportunidade de comprovar que não cheira e que o muro é seu lugar, com a convicção de que é isso o que o “povo sofrido” quer. Os 513 senhores que serão as estrelas de hoje nas telas das máquinas de fazer doidos no pior sentido da palavras, estes senhores votarão sim ou não pensando nas próximas eleições democráticas, aquela onde se é obrigado a votar e, dizem, não se pode revelar em quem, provavelmente para não se passar vergonha. Grupos políticos, sempre azeitados pelos econômicos, miram sempre o tamanho do orçamento como principal objetivo para tomar o poder, seja ele de uma prefeitura em Piroquinha do Passa Quatro, ou do Brasil varonil. Seus integrantes mentem tanto que acreditam nas próprias mentiras. É isso que estará em jogo hoje, enquanto a macacada dita esclarecida fica se xingando nas ruas e a ninguenzada, maioria deste povo, nem sabe direito o que está acontecendo – apenas sente que está ficando até sem bolso, quanto mais com algum caraminguá. Dependendo do estado de espírito com que se olha tudo isso, é de chorar ou rir. O país, este não acaba, apesar de todas as tentativas. Vida que segue.