19:40ZÉ DA SILVA

Sempre fui o bicho do grilo, mesmo depois de estropiado pelas décadas da vida. Grilado nasci, vivi e vou morrer, porque tenho os dois neurônios – e eles batem bola como Pelé e Coutinho. Depois de tanto tempo, conheço apenas uma pessoa que continua me chamando de bicho. O grilo, no entanto, é meu – propriedade particular e intransferível. Ele fez ter o medo que me ajudou a ler e ouvir muito rádio, porque o mundo fora quarto era um pesadelo real demais. Ali eu pude ouvir a voz mais bonita do Brasil, a de Ferreira Martins, anunciando “Maia, Tim, Maia” – e aí entrava Azul da Cor do Mar e Coroné Antonio Bento. Meu grilo cresceu com o tempo, vestiu mais armaduras e se transformou em algo que, ao público externo, parece outra coisa, um bicho extrovertido, alegre, caricato. Mas ele continua grilo, desse bicho aqui, que até ri por causa dessas metamorfoses e por não ser barata.

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