Do blog Cabeça de Pedra
Alguém disse que amor de cachorro é o mais puro. Talvez por isso ele sempre teve ciúme dos que cruzaram sua vida. Se sentia pior que os animais, mesmo aqueles que, por costume na pobreza, ficavam presos numa corrente engatada num arame que corria rente ao muro. Uma vez viu um ser sacrificado de uma forma muito cruel. Sem sabe o que fazer e ao ver o doente agonizando sem morrer ao lado da cova, começou a gritar para ele partir, como se isso fosse possível. A cena nunca lhe saiu da cabeça, assim como a do cão do vizinho que amanheceu enforcado porque atacava negros na rua. Mais velho, tratava os que estavam mais próximos com a dureza dos que não querem se entregar àqueles olhares sinceros e pidões. Não era violento, mas implicante. Não queria que ficassem dentro da casa, mas eles ficavam e faziam tudo para conquistá-lo. De uma senhora dona de um de pelos preto e branco, ouviu que a cadela gostou dele ao primeiro contato. Porque eles são assim. Resistiu – mas sempre que via carrinheiros com seus companheiros inseparáveis, se imaginava empurrando um daqueles veículos com a princesa em cima, olhando a plebe ignara do alto de sua vitória. Não aconteceu isso. Não aconteceu nada. Ela foi embora por doença. Ele ficou remoendo, mas fazendo esforço para não demonstrar. Naquele dia se enfiou embaixo das cobertas. A casa estava mais do que vazia.