por Célio Heitor Guimarães
Correm boatos sobre o fim de dois jornais paranaenses, em um mercado já reduzido ao extremo. Folha de Londrina e Tribuna do Paraná estariam prestes a deixar de circular. Há quem esteja comemorando. E preconize, com explícito contentamento, também o fim da Gazeta do Povo. O pensamento e a palavra são livres, graças a Deus, mas, às vezes, com o devido respeito, as pessoas não pensam e não sabem o que dizem. Independente dos donos, da qualidade da equipe profissional em atividade, da linha editorial ou ideológica adotada, o fim de um jornal é sempre triste e lamentável. Além do mercado de trabalho, que se estreita ainda mais, é mais um veículo de informação e opinião que desaparece. O que comemorar, então, cara-pálida?!
Queiramos ou não, uma sociedade não sobrevive sem imprensa – e, em especial, a escrita. “Pobre da cidade que tem um único jornal!” – proclamou, certa feita, o poeta e jornalista Affonso Romano de Sant’Anna. E o que dizer daquela que não tem ou não terá nenhum?
O jornal impresso pode não ter – e não tem – a velocidade, a instantaneidade e a penetrabilidade dos meios eletrônicos, como o rádio, a televisão e a internet, mas ainda é o que tem mais charme e exerce o maior fascínio entre os leitores. E a sua presença é indispensável. Nele está escrita a História da civilização – para todo o sempre, apague a luz, acabe a bateria ou dê um crepe na internet.
Há 70 anos, na manhã de 30 de junho de 1945, os moradores de Nova York acordaram sem notícias. Entraram em pânico. Naquele ano histórico, a bomba atômica fora lançada sobre Hiroshima e Nagasaki; na Iugoslávia, vencidos os alemães, os vencedores matam-se entre si e Tito implanta o comunismo; em Berlim, houve o suicídio de Hitler; os nazistas são julgados pelo Tribunal de Nuremberg; e na América do Norte é criada a ONU… No entanto, naquele dia – e nas duas semanas seguintes – os jornais nova-iorquinos não chegariam à casa dos leitores nem aos seus locais de trabalho nem estariam disponíveis nas bancas: os entregadores entraram em greve. E isso fez a Big Apple entrar em polvorosa.
É certo que, ao longo da História, jornais viveram, quase sempre, impregnados de um vício de origem: relações de mal disfarçada dependência com pessoas ou instituições que detêm o poder. Foi assim na antiga Roma, foi assim no Brasil, foi assim no Paraná e em nossa Curitiba. Não obstante, a presença da imprensa é essencial não apenas como veículo de comunicação, mas como um dos pilares da democracia. Quantas denúncias de desmandos, de corrupção e de abuso de poder não nasceram nas redações de jornais e revistas, depois de exaustivas (e competentes) investigações de repórteres e redatores, pautando, inclusive, as autoridades públicas?…
É possível que os jornais impressos estejam no “volume morto”, vendo-se obrigados a emprestar receita e esforços para tentar alavancar suas versões digitais, como disse o colunista Leão Serva, da Folha de S. Paulo, em congresso de jornalistas realizado no ano passado. É também possível que haja falta de qualidade na atual imprensa. Sinal de um tempo de crise que atinge a educação, a economia, a política, o mercado, os costumes e até mesmo o talento humano, época em que não se lê, não se fala e não se escuta. Tudo tem de ser imediatista e descartável. A vida corre rápido e não se tem tempo para vagarezas. O mundo é dinâmico. Informar-se, por quê? O que interessa está no whatsapp do seu smartphone, iphone, ipad, ipod, imac ou icoisaqueovalha.
E é ainda possível que o fim do jornal de papel, aqui como no resto do Brasil e do mundo, seja realmente apenas uma questão de tempo. No entanto, idiota se revela qualquer comemoração antecipada, sobretudo quando fruto de preconceito, ignorância ou tolo oportunismo.
Quando (e se) isso acontecer, nós iremos sentir muita saudade dele, podem crer.