Mãos de ourives, pés de craque, talento recebido de Deus – e muito bem cuidado porque sempre soube agradecer por isso. Sobrevivente de acidente no campo de trabalho. Ser humano raro nestes tempos modernos onde celebra-se a insignificância. A bola reverenciada como deve ser, por ser redonda, imprevisível para os pernas de pau, companheira para quem ela escolhe. Desde os tempos do Combate Barreirinha e do União Ahú, da Suburbana desta Curitiba que viu se transformar fisicamente, mas que a ela se adaptou, porque o destino o levou ao Britânia e, há exatos cinquenta anos, Coritiba, num casamento de amor raro onde quem mais saiu ganhando foram os que este esporte tem de importante e razão de existir – a torcida. Flecha Loira em 252 partidas, cravando corações e mentes para sempre. Treinador em outras 185 – e se fosse possível passar aos comandados o que sempre soube, ah!, este time Coxa Branca teria mais que um título brasileiro e tantos paranaenses. Ele mesmo guarda em casa sete faixas de campeão estadual, uma do Torneio do Povo, mas mesmo se não tivesse nenhuma conquista, tem a mais significativa, por ser unanimidade e querido até por quem não o viu jogar, como este fã que agora escreve num dia especial. A estátua que vai eternizá-lo no Alto da Glória hoje, dia em que completa meio século de vida ali naquele espaço sagrado da torcida, tem um significado maior do que qualquer tentativa de interpretá-la. Eterna, vindo da vontade de uma nação movida a paixão, demonstra nestes tempos conturbados, esquisitos, de transformação, que a alma, o caráter e a dignidade de uma pessoa são o que verdadeiramente importam. Dirceu Krüger, para este seu admirador, sempre será aquele que, um dia, depois de um treino do Coritiba, saiu a recolher as bolas espalhadas pelo gramado/palco de suas atuações como ídolo. Guardou-as com o carinho e a reverência de quem agradece à companheira de sempre tudo o que conquistou, enquanto os jogadores desciam para o vestiário e, com certeza, muitos se achando o que jamais foram ou serão.
A diferença entre um atleticano e outros é essa: capacidade de reconhecer os feitos do rival. Você só melhora, menino Zé Beto!
Tive o privilégio de ve-lo jogar e ainda de conhece-lo pessoalmente. Grande jogador é uma ótima pessoa, um bom carater como poucos.