Do blog Cabeça de Pedra
Fiz a foto sem a câmera, como ensinou mestre Cartier Bresson. Coloquei as minhas mãos sobre as dela, que estavam entrelaçadas. As marcas eram idênticas – de vitiligo, principalmente nos dedos, brancos, como se estivessem descascados. Depois olhei o vestido preto e, acima da gola, o rosto tranquilo, da missão cumprida. Grande costureira, foi ela mesmo quem fez recentemente, quando sentiu que a hora da despedida final estava chegando. Também disse a alguém próximo que sentia muito não ter podido fazer tudo, que ainda faltavam coisas. Ah! Esse buraco na alma só existe aos que realizaram demais – e assim foi com ela. Então pensei que, além de tudo que me deu, estava ali a prova, que nunca tinha visto antes, mas que agora, no último instante, apareceu, como um legado passado para que nunca pare, nunca desista, ainda mais porque as uso assim, datilografando, como ela as usava com agulha e linha, por exemplo. Por isso, fotografei e guardei aqui comigo. Então, o caixão foi fechado e colocado dentro da terra. Para sempre.