por Ivan Schmidt
Os surdos que marcaram a batida sincrônica dos desfiles das escolas de samba nesse carnaval não foram suficientes para empanar de todo o diálogo e os cochichos, especialmente esses, acompanhados dos costumeiros conchavos, em torno dos candidatos e chapas que deverão concorrer à prefeitura municipal de Curitiba. Em toda a parte é assim, mas nosso interesse não irá além do pedaço onde há centenas de anos Romário Martins e mais alguns amarraram suas montarias à beira de um olho d’água.
Bem, dizíamos que mal silenciados os bumbos, cuícas e tamborins, apagando o refrão do último samba enredo, já um novo se esboça na volúpia da arregimentação de forças capazes de empurrar uma candidatura na direção ao Paço Municipal.
A analogia com as escolas de samba é cabível, pois além do carnavalesco, o sagaz ideólogo que transforma em linguagem plástica (e bota plástico nisso!), o interprete do samba, a história que o enredo pretende contar, os diretores de alas, o mestre da bateria e seus instrumentistas e os milhares de passistas anônimos, são indispensáveis para o sucesso do desfile. Guardadas as proporções essas são as peças indispensáveis para que uma campanha política seja vitoriosa.
Construir uma candidatura e mantê-la de pé ao longo da campanha, cada vez em períodos mais curtos e com menos dinheiro, à vista das dificuldades postas pela maior vigilância da lei eleitoral, é uma façanha digna de gigantes e abnegados, embora em muitos casos não se consiga apurar na devida integridade as verdadeiras causas de tanto gigantismo e abnegação. Cala-te boca!
Os municípios brasileiros terão eleições supervisionadas pela Justiça Eleitoral no dia 2 de outubro, devendo o 2º turno – onde for necessário — ocorrer antes do final do referido mês.
Em Curitiba como nas demais cidades há apenas pré-candidatos, porquanto a legislação eleitoral estipula uma série de requisitos e o cumprimento de prazos, estabelecendo que somente após as convenções municipais que se realizam até o último dia de junho, serão anunciados oficialmente os nomes dos concorrentes (esse ano haverá também eleição de vereadores), formadas as coligações e inscritas as chapas.
Enquanto isso, o exercício mais em voga é o diálogo nem sempre produtivo que resvala para o cochicho e o conchavo, aos quais me referi no início, na verdade, um terreno movediço e, por isso mesmo facilmente tomado pela fofoca, maledicência e veiculação de falsidades, numa batalha que jamais se circunscreve aos limites do bom senso e do respeito humano.
Pelo que se pode filtrar das muitas versões iniciais sobre a sucessão municipal em Curitiba, é que estão em franco desenvolvimento os entendimentos para consolidar uma chapa reunindo o atual secretário estadual Ratinho Junior e o ex-prefeito Rafael Greca de Macedo, nessa ordem. Acrescenta-se que o entendimento conta com o apoio irrestrito do governador Beto Richa e seus operadores políticos, numa óbvia explicitação da distância que estariam dispostos a manter da candidatura do deputado federal Luciano Ducci.
Outro dia alguém se referiu ao fato de que a falange comandada por Beto Richa estaria seriamente comprometida com a “cristianização” da virtual candidatura de Ducci à prefeitura de Curitiba, pulverizando a aliança que vigorou nas duas eleições do próprio Beto a prefeito e, depois, a governador do estado.
Para os leitores mais jovens é necessário explicar de que se trata a “cristianização” da candidatura Ducci, mas para isso devemos retroceder ao cenário político-partidário da metade do século passado na esfera federal. Em 1950 deveria ocorrer a eleição presidencial para a substituição do marechal Eurico Gaspar Dutra, eleito com a extinção da ditadura de Getúlio Vargas.
O próprio Getúlio era candidato pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ao passo que o político mineiro Cristiano Machado (1893-1953), ex-prefeito de Belo Horizonte, foi escolhido pelo Partido Social Democrático (PSD) para a disputa. O brigadeiro Eduardo Gomes era o candidato da União Democrática Nacional (UDN).
Por baixo dos panos a cúpula do PSD traiu seu candidato para eleger Getúlio, por quem morria de amores, levando a imprensa a cunhar o termo “cristianização” ao definir com inequívoca propriedade a natureza mesma da trama que sepultou a candidatura de Machado, cujas chances de vencer, verdade seja dita, eram mínimas.
Comenta-se também que o senador Álvaro Dias, hoje no Partido Verde, sem dúvida o político mais importante do Paraná nas últimas décadas, estaria movendo suas peças para fazer do vereador Paulo Salamuni, líder do prefeito Gustavo Fruet na câmara, candidato a vice-prefeito na chapa do chefe do executivo municipal.
O objetivo primordial seria não apenas o fortalecimento da chapa de Fruet, mas a ampliação do cacife do próprio senador, que a depender da direção tomada pelos ventos soprados pelos deuses da política, estaria em 2018 diante da opção de disputar o governo do Paraná ou a presidência da República.
Logo serão palpáveis as providências adotadas pelo senador Álvaro Dias nos municípios de maior densidade eleitoral quanto à indicação dos candidatos a prefeito e vereadores, tendo em vista a importância de contar com esses aliados em embates eleitorais futuros.
Quanto a dupla Ratinho-Greca, bem mais que o fortalecimento natural da chapa apoiada pelo Palácio Iguaçu, há observadores convencidos da possibilidade de Greca vir a encarnar a figura do anjo exterminador dos escassos predicados remanescentes na polêmica personalidade do senador Roberto Requião, que tenta sobreviver na província instrumentando a candidatura de Maurício, filho, ao cargo que ele próprio exerceu nos meados dos anos 80.
Na crônica das eleições para a prefeitura de Curitiba pós-aprovação do instituto da reeleição, pela primeira vez o titular do cargo não é o favorito da maioria que dá preferência ao secretário Ratinho Junior. Chamado de desprefeito pelo opositor Rafael Greca – imaginemos o que essa verve ainda tem armazenado – o fato é que a persona política de Fruet teve seu brilhantismo quase completamente ofuscado pela fragilidade de sua atuação como prefeito.
Político experiente, forjado no contato pessoal com o eleitor, Fruet sempre se caracterizou pelo empenho com que conduziu suas campanhas anteriores, especialmente a última, fazendo rebrotar o dinamismo interior nos momentos de maior incerteza, reavendo as forças quando ninguém mais acreditava nelas.
A favor de Fruet, embora não seja o suficiente, pode-se afirmar que esse venha a ser, mais uma vez, seu grande diferencial.
Quando escutar o barulho do silencio/
e o troar das cachoeiras imaginarias/
ver clarões quando fecha os olhos/
e uma aira suave te umedecendo/
vem com o frescor de uma manhã árida/
e o canto triste do vento/
em duetos com os pinheirais.
Vicchi errei o post.era embaixo