por Ivan Schmidt
A Gazeta do Povo concluiu na edição dessa quinta-feira (28) a série de entrevistas com sete pré-candidatos à prefeitura de Curitiba, com exceção do prefeito no exercício do mandato, Gustavo Fruet, que segundo as informações teria recusado o convite do jornal para participar da série.
Não exatamente nessa ordem foram entrevistados pelos jornalistas da Gazeta e as matérias publicadas nas últimas semanas os pré-candidatos Tadeu Veneri, Requião Filho, Fernando Francisquini, Nei Leprevost, Ratinho Junior, Luciano Ducci e Rafael Greca de Macedo.
Fico devendo aos leitores desse espaço os nomes dos partidos a que pertencem pelo menos quatro dos cidadãos de olho na cadeira de prefeito de Curitiba.
Os que consigo lembrar são Veneri (PT), Requião (PMDB) e Ducci (PSB), até porque são tantos os partidos e tão célere a migração dos homens públicos de um para outro grupo, que o melhor é omitir o detalhe para evitar uma informação equivocada.
Confesso que andava a cata de uma frase que transmitisse a suma da série de sete entrevistas, e folgo em dizer que a encontrei hoje (28) na coluna do Celso Nascimento no mesmo jornal.
O mais temido colunista político da imprensa paranaense, dono de uma perspicácia ferina, mas jamais desrespeitosa a quem quer que seja escreveu: “A sabatina que a Gazeta do Povo fez com os pré-candidatos à prefeitura de Curitiba – concluída ontem (a conversa foi gravada na quarta e publicada na quinta) com a entrevista de Rafael Greca (PMN) – revela que, em vez de eleição, a capital pode assistir a um “torneio bola murcha”, à moda criada pelo Fantástico, da Globo. Nenhum dos sete entrevistados conseguiu marcar um gol que os dignasse a pedir música. Uns por evidente fragilidade técnica e/ou por desconhecimento da realidade; outros, por encenarem valentias que não possuem ou por propostas que passam longe das possibilidades de realização”.
Li esparsamente as entrevistas (algumas não me interessaram) e concordo com a observação de Celso, citando apenas uma boa sacada de Luciano Ducci: “A prefeitura está fechada para balanço há três anos”, naquela que talvez seja a análise mais acurada da gestão Fruet, embora não possamos jogar toda a responsabilidade sobre seus ombros, contornando a nocividade da crise política e econômica nacional que comprometeu também administrações estaduais e municipais, cujo comportamento histórico dos últimos tempos é estender o chapéu na direção de Brasília, que se limita a contemplar e nada fazer para atenuar a mendicância de governadores e prefeitos.
Ducci é deputado federal de um partido (PSB) que faz oposição ao governo Dilma e, portanto, não pode alegar desconhecimento dos enormes entraves que prevalecem no diálogo entre o governo federal, estados e municípios.
Contudo, não se pode retirar toda a razão do ex-prefeito Luciano Ducci, que não é absolutamente culpado de má administração, mas foi punido pela população com um amargo terceiro lugar na contagem dos votos, ficando fora do segundo turno. A grande surpresa, mesmo, foi o sprint final de Gustavo e sua chegada ao segundo turno, no qual derrotou o candidato que muita gente considerava o favorito: Ratinho Junior.
Um fato marcante que pode ser lembrado daquela eleição e considerado como um dos fatores determinantes da vitória de Gustavo Fruet, além de seu carisma pessoal e formação política – herdeiro a altura do histórico de seu pai Maurício – foi a indiscutível preferência do então candidato junto aos eleitores.
Mesmo com a aliança feita com o PT, um componente que a muitos pareceu desgastante, o eleitor que em ocasiões anteriores havia votado em Maurício e também em Gustavo, que o substituiu na Câmara dos Deputados e honrou a trajetória política do progenitor, não teve dúvidas elegendo-o prefeito da capital.
O que aconteceu a partir daí é outra história. A aliança com o PT não funcionou e se demonstrou equivocada, conforme a intuição da fração mais conservadora (que não é pequena) do eleitorado curitibano. A verdade manda reconhecer que Fruet não fez boa administração, a cidade está realmente maltratada, os prédios pichados, as ruas esburacadas, as calçadas cada vez mais perigosas, além do mato que cresce em muitos lugares. Tanto é assim que o prefeito de Curitiba não tem uma avaliação convincente nas pesquisas de opinião pública.
Talvez pela distância das eleições que só vão ocorrer em outubro, os pré-candidatos se limitaram a falar sobre obviedades, ou conforme a definição do jornalista Celso Nascimento, a oferecer um quadro de “evidente fragilidade técnica e/ou desconhecimento da realidade”. Pelo que se leu nas entrevistas pode-se supor que pouquíssimos eleitores conseguiram reunir elementos para optar por um dos nomes expostos, ou seja, o nome está escolhido e ponto final. Muita água deve rolar por baixo da ponte, sendo até possível que alguém dessa lista sequer venha a consolidar a candidatura. É preciso esperar.
Na última entrevista publicada, a de Rafael Greca, que chegou a ser ministro no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, apeado do cargo por causa dos bingos e da caravela alusiva aos 500 anos, segundo os entrevistadores Rogério Galindo e Kátia Brembati, o ex-prefeito repetiu a conclusão da carta escrita à época: “Eu acabei descobrindo todos os mistérios de Brasília. Em Brasília eu fiz tudo o que devia e Brasília fez o que costuma”.
A diferença é que alguém de lá deverá ter percebido sutilmente a ansiedade possessiva do então ministro, que se tivesse mais tempo bem que poderia se apropriar — sem a menor cerimônia — de alguns ícones do Distrito Federal: “A minha catedral, o meu Teatro Nacional, o meu lago Paranoá, o meu Plano Piloto”.
Não aconteceu outra coisa quando os jornalistas perguntaram sobre suas preferências em Curitiba: “O meu Parque Tanguá e também o meu Umbará. O museu que eu fiz, o Memorial de Curitiba. O meu Largo da Ordem. O meu Bairro Novo”. O homem parece o rei Midas.
Perfeito, grande Ivan. Eu estava me preparando para enaltecer o preciso comentário do Celso Nascimento – como de costume, o mais eficiente e corajoso escriba político desta província – quando você o fez. Com a competência de sempre.