de Caio Fernando Abreu
Não espero nenhum olhar, não espero nenhum gesto, não espero nenhuma cantiga de ninar. Por isso estou vivo. Pela minha absoluta desesperança, meu coração bate ainda mais forte quando não se tem mais nada a perder, só se tem a ganhar. Quando se pára de pedir, a gente está pronto para começar a receber. O futuro é um abismo escuro, mas pouco importa onde terminará a minha queda. De qualquer forma, um dia seremos poeira. Quem é você? Quem sou eu? Sei apenas que navegamos no mesmo barco furado, e nosso porto é desconhecido. Você tem seus jeitos de tentar. Eu tenho os meus. Não acredito nos seus, talvez também não acredite nos meus próprios. Não lhe peço que acredite em mim.
Cara,quando você morrer,faça de conta que não nasceu,não ligue pela quantidade de estrelas que tem no céu,nem se preocupe com o que pode acontecer com a terra daqui a bilhões de anos.
Por enquanto o que importa é as lembranças do passado,num futuro que não existe e num presente que se vai a medida que vou soletrando alguma coisa.