por Zé da Silva
Na chefia de uma turma grande e descolada, vibrei quando uns pesquisadores mostraram o que deveria ser o verdadeiro rosto de Jesus Cristo. Fiz uma cópia grande e preguei na parede atrás da minha cadeira, acima da cabeça. Durante todo o tempo que a imagem ficou lá, ninguém fez o sinal da cruz. Os visitantes não sabiam se me olhavam ou a figura. Alguns perguntavam quem era. Respondia sincero. Não acreditavam. Um dia coloquei a imagem conhecida e divulgada pela igreja católica – a do bonitão de cabelos e barbas longas, sedosas, olhos azuis ou verdes, dependendo da gráfica. O que deveria ser real quase reclamou da concorrência desleal. Perto de sair daquela repartição, mudei tudo de novo. Tasquei lá o King Kong do primeiro filme, ele com o dedão querendo arrancar a roupa da mocinha. De vez em quando acendia uma vela para protegê-la e também para acalmar a fera. Ninguém comentou.