por Zé da Silva
Morri por um motivo muito simples: não tenho paciência. Vou contar como foi, porque, pelo jeito, estou no purgatório, aquele lugar entre o céu e o inferno onde ficam os que caíram nas mãos do anjo e do diabo indecisos. Aqui tem computador, como devem ter percebido, senão, nada de letrinhas, não é mesmo? Antes do ocorrido, acordei bem, depois de ter apagado na noite anterior. Fui tomar meu banho – e nada de a água esquentar. O gás! Estava nu e nu saí da casa para trocar o botijão no fundo do quintal. Desenrosca de um aquela borboleta, depois mais um século para tirar o lacre da entrada do outro (aí eu já comecei a ficar nervoso) – e começa o drama de enroscar no novo, recheado de combustível. Nada! A coisa não engatava. Tentei até fazer um pouco de respiração de yoga e meditação budista para me controlar. Não deu. Uma hora depois, suado, cansado, ouço uma voz lá de dentro reclamar que a água estava gelada – e que assim não dava para continuar. Pensei: não dá mesmo! Fui à garagem, peguei uma marreta, coloquei o treco no outro treco e dei uma porrada tão forte que o bico entrou todinho no botijão e uma faísca beijou o conteúdo que vazou, causando alguma coisa que ainda não sei, mas que me trouxe até aqui. Agora estou bem calminho.