por Carlos Heitor Cony
Quando o Brasil perdeu para o Uruguai, em 1950, fiquei triste. Na última Copa do Mundo, quando o Brasil perdeu para a Alemanha por 7 a 1, eu não fiquei triste, fiquei envergonhado. Menos envergonhado do que agora com as trapalhadas de nossa vida pública.
Em primeiro lugar, com os dois chantagistas que ocupam os dois cargos mais importantes da nosso governo: a presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados. Já assisti momentos difíceis e dramáticos de nossa política nacional: o suicídio de Getúlio e o golpe militar de 1964, que durou tanto tempo.
Desta vez, a tristeza e a vergonha até certo ponto me pegaram desprevenido. Vi dona Dilma se defendendo de acusações que ninguém lhe fez (dinheiro no exterior) e nada falando dos verdadeiros motivos do estelionato fiscal que ao mesmo tempo entristece e envergonha o Brasil.
Por sua vez, o presidente da Câmara, além das acusações que lhe são feitas, guardou o seu poder de chantagem até o momento em que foi reprovado no Conselho de Ética. Não pode ser acusado de ter exorbitado o seu direito constitucional, e sim de depósitos no exterior até hoje não explicados. Guardou o seu trunfo até agora, quando decidiu usá-lo aceitando o pedido de impeachment da presidente.
Já dona Dilma colocou o país e a sociedade num lamaçal pior do que a lama do rio Doce: a falta de credibilidade, crimes orçamentários que poderiam impedi-la de governar um país que cada vez está mais desacreditado no panorama internacional.
Acredito que os dois protagonistas da atual crise política e financeira talvez merecessem o mesmo destino dos líderes do PT que estão na prisão. Tal como está, quem merece um impeachment rápido e justo é o próprio Brasil. Tristes e envergonhados, não devemos esperar o pior porque o pior já está acontecendo.
*Publicado na edição de domingo (06) na Folha de S.Paulo