por Ruy Castro

Os ingleses têm uma expressão significando não demonstrar emoção, manter a cabeça erguida e ficar firme, não importam as agruras por que se esteja passando: “to keep the stiff upper lip” –literalmente, manter firme o lábio superior, não deixá-lo tremer, não dar bandeira. No começo, o “stiff upper lip” parecia privilégio dos imperturbáveis aristocratas ingleses –os quais, por isso mesmo, seriam aristocratas. Mas eles foram tão satirizados por escritores como Evelyn Waugh, Noël Coward e P. G. Wodehouse que pararam de se jactar.

O contrário de “stiff upper lip” é o que, no Brasil, Nelson Rodrigues definiu como “olho rútilo e lábio trêmulo”. É o que acomete as pessoas normais diante de algo que as aflige e não conseguem controlar. Temos, então, que o lábio superior é o grande termômetro das emoções.

Não há registro na história política brasileira de um lábio superior mais firme que o da presidente Dilma Rousseff. De 15 em 15 minutos ela sofre uma derrota em alguma votação; os números de seu governo despencam em todos os quesitos; políticos que ela pensa ter cooptado a traem dando risotas; e até seus aliados gostariam de vê-la pelas costas. Com todas essas bombas caindo ao seu redor, ela mantém um discurso positivo, uma pose altaneira.

Sabe-se que, nos primeiros quatro anos de triunfalismo, Dilma deu passa-foras em generais, perdeu a paciência com embaixadores e levou ministros às lágrimas em reuniões. Ou seja, é dada a rompantes emocionais. Mas, desde que a atual crise começou, não se sabe de um altear de sobrolho, um único muxoxo amuado ou um simples suspiro de sua parte. Lábio trêmulo, então, nem pensar.

A não ser que, como arriscou uma arguta amiga minha, tenham sido as plásticas e os retoques e botoxes a que se submeteu que paralisaram o seu lábio superior.

*Publicado na Folha de S.Paulo