por Zé da Silva
Capricórnio
Contar histórias… Ele apareceu na sacada do prédio da rádio. Tinha cantado lá dentro para os escolhidos. Então veio, porque a multidão estava esperando a aparição de um deus. Era ele, o da voz que se espalhava como um grande carinho pelo Brasil através das ondas, aquelas. Até o fato de mancar levemente era visto como uma marca indelével. Indelével era palavra da época. Assim que ele apareceu, com seu terno impecável, fez-se um silêncio reverencial. Acenou com a mão direita para todos os lados daquela rua estreita. Tenho certeza que me viu. Eu estava lá num canto espremido à espera. Queria ter certeza de que a voz que ouvia nos discos era mesmo de alguém em carne, osso e alma. Então, ele cantou, à capela, sem microfone, sem alto-falantes, sem nada. Chorei baixinho, para não atrapalhar. E gravei na memória, para sempre, Orlando Silva na rua Barão do Rio Branco, no altar da Rádio Clube. Foi assim que ouvi a história. Foi assim que se tornou a mais pura verdade.