por Claudio Henrique de Castro*
A partir da previsão da limitação de 40 km/h e a instalação de 12 novíssimos radares no polígono central de Curitiba listamos algumas observações sobre o tema:
A medida é profunda e foi decidida sem uma ampla discussão técnica ou audiências públicas com a população do Centro e adjacências; também sem ouvir o comércio e o setor de serviços;
Considere-se que Curitiba adotou limitação no Centro como as cidades de Londres e de Paris que possuem, respectivamente, 408 km e 214 km de extensão de metrôs e centenas de belíssimas estações.
Neste sentido há uma assimetria sem precedentes para adotar-se medidas de limitações semelhantes.
É uma pretensão de retorno à “belle époque brasileira”, que durou de 1889-1931, a exemplo das vestimentas francesas repletas de tecidos densos e de longas perucas num calor tropical de 30 graus do Rio de Janeiro, então capital da República.
As vias coletoras de 60 km/h serão reduzidas. Isto vai ocasionar uma repulsa às vias com limitação – e isto já ocorre com as experiências das avenidas Sete de Setembro e Marechal Deodoro.
Motos, bicicletas, ônibus, ambulâncias, carros de polícia e coletivos deverão também circular a 40 km/h? De que forma e onde ?
O fundamento da proteção dos pedestres e a prevenção dos acidentes a cidade já ouviu quando da instalação da indústria das multas em gestões passadas sepultadas pelo eleitorado curitibano e pela encampação que a própria prefeitura realizou nos equipamentos.
Alguns vislumbram a futura e real instalação do pedágio urbano para subsidiar o transporte coletivo combalido pela alta fuga de passageiros e outros fatores.
Cogita-se ainda o rodízio de placas que fracassou em São Paulo e que obrigou o paulistano a comprar dois carros populares, um com placa par e outro com placa ímpar.
Se Curitiba escolheu ser a capital das bicicletas e dos radares daremos um exemplo ao mundo e então vamos substituir gradativamente as vias por ciclovias e a questão será resolvida. Contudo, o cidadão curitibano não participou de nenhum referendo para que isto aconteça, nem muito menos esta repentina redução.
A experiência de redução drástica de velocidade vai acontecer às vésperas das compras de final de ano e, se fracassar, poderá liquidar o comércio do centro da cidade e consequentemente poderá cortar milhares de postos de trabalho.
Ao invés de se atacar os pontos de maior incidência de acidentes, todos os motoristas pagarão o preço da ausência de fiscalização e blitzes em Curitiba.
Inevitavelmente as áreas circunvizinhas à poligonal de 40 km/h serão um caminho alternativo necessário para evitar a redução e “ganhar tempo”, gerando novo fluxo de veículos a regiões hoje calmas e sem acidentes.
Considere-se que os pontos de redução de velocidade causam acidentes no entorno e na sequência da via, pois muito motoristas para “tirar o atraso” das reduções aumentam a velocidade nos trechos seguintes.
Necessariamente a redução da velocidade na via deve ser combinada com vias sem interrupção, isto é, devem-se construir trincheiras na via. Este item técnico não consta no atual projeto.
Este erro foi cometido na avenida das Torres na qual se optou por uma ponte estaiada de alto custo construtivo ao invés de se construírem diversas trincheiras de baixo custo para dotar a via de continuidade. Some-se a ausência de modal alternativo para escoar passageiros do transporte aéreo para o centro e interligá-lo com a rodoviária ou a pontos da cidade.
Nas três guerras Púnicas entre Roma e os Fenícios, na última, na qual Cipião Africano venceu Cartago, Roma se orgulhou da vitória e cumpriu a promessa “Delenda est Cartago” (Destrua-se Cartago).
Temos agora uma intervenção urbana de grandes proporções que pode ser altamente desastrosa e incompatível com a cidade, pela aparente falta de técnica e pela ausência da participação da população envolvida.
“Delenda est Curitiba?” (Destrua-se Curitiba?)
* Claudio Henrique de Castro é advogado e professor de Direito
Análise muito bem feita sobre as macaquices curitibanas, no caso, do trânsito.
Mas o ilustre advogado e professor que me perdoe, mas é necessário ajustar umas incorreções históricas.
Roma venceu as três campanhas púnicas; a última foi apenas com o intuíto de aniquilamento de Cartago.
Fenícios deram origem a Cartago, depois de mais de 800 anos eram chamados cartagineses, e não fenícios; do mesmo modo que brasileiro não é português.
Catão, o Velho, encerrava em suas discussões políticas com a frase ” Delenda est Cartago”…nunca foi promessa romana. Apenas que Cartago recuperou-se rapidamente, econômica, política e socialmente desde a derrota na segunda guerra púnica ( que foi especialmente traumática para os romanos) e Catão , entre vários cargos públicos que teve, um deles como emissário em Cartago viu a recuperação e o perigo para Roma que representava Cartago.
Infelizmente Fuet não é Catão e Curitiba nem chega perto de ser uma Cartago.
grato.
Penso que os últimos fenícios migraram para Cartago por isso eles foram os remanescentes dos fenícios (aceito a crítica). Cartago somente foi derrotada em seu território na terceira guerra púnica (a primeira foram em colônias e a segunda foi em solo romano pelo grande general Aníbal Barca). Referi me à promessa do povo romano pois Catão que participou da segunda guerra púnica (há controvérsias) não engoliu a segunda guerra púnica na qual os romanos não tiveram o gosto da vitória plena, ele foi Censor, Edil e Pretor, cargos eletivos naquela época e representativos do povo romano. Catão e Cipião foram inimigos figadais e a frase que Catão pronunciava era “Ceterum censeo Carthaginem esse delendam”. Muito boa sua crítica, abraço, CHC
Só vi considerações sob o ponto de vista de quem só utiliza carro para deslocamento. Ou seja “argumentos” em favor do próprio umbigo, sem embasamento científico e com viés pessoal (achismo).
Consultai assuntos como os de engenharia de tráfego, mobilidade urbana sua legislação federal e o código de trânsito. O texto é jornalístico se eu propusesse toda fundamentação teórica o Zé Beto jamais publicaria, nem nenhum jornal. Mande-me um email que te esclareço todos os pontos de forma científica e acadêmica, aliás como faço nas pós graduações que profiro palestras sobre este tema e outros. Abraço,
Bem colocado o texto pelo CHC sobre a velocidade dos veículos. Lembro que a muitos anos atrás, dizíamos que Curitiba, precisava estar preparada para o ano 2000, que teríamos 1 milhão de habitantes. Calcado nessa meta Curitiba, foi planejada e adaptada para enfrentar os problemas de modalidade que hoje atrapalham a vida da população. Uma das intervenções da época foi a transformação de vias pública de transito de veículos para transformação em vias de uso exclusivo de pedestres, entra outras vias, temos a rua da Flores. poderíamos ciar outras como as ruas que são de uso misto como as de jardins ambientais ( rua Schiller).
Depois desses projetos e programas de ocupação do espaço e sistema de circulação, parece que de uns tempos para cá houve uma paralisação de ideias e ousadias para colocar em prática projeto que não existiram implantação de novas opções para o sistema viário.
De 2000 para cá pouco se fez em transformações viárias. As administrações, por falta de opções de projetos e novos caminhos, partiu para de forma retórica dizer que o transporte coletivo é a solução. Isso não é nem nunca foi novidade, pois se assim fosse algo novo não teria Curitiba sido pioneira e modelo de transporte coletivo com as vias expressas e terminais de transporte, com integração com a Região Metropolitana, fato esse que se esvaiu e acabou atualmente.
A retórica que falo é de dizer que o pedestre deve ser a opção e tem a preferência. Também não é algo novo, pois um dos ícones em planejamento e execução de Curitiba foi o de manter a cidade com áreas de utilização à população.
O que acho, e alguém falou em achismo, é que dá a impressão de uma “miopia” de planejamento na cidade, termo esse muito usado ultimamente até pelo ministro da fazenda.
Bem claro que a preferência é o transporte de massa, claro que o pedestre deve ter prioridade em utilizar os espaços, mas para isso acontecer as ações devem vir acompanhada com soluções que não sejam simplistas, como instalar “vias clamas” “faixas exclusivas para ônibus”, sem que se tenha opções para outros meios de mobilidade.
Para isso acontecer sem traumas precisa a administração municipal dar opções para a população e infraestrutura para a mobilidade fluir. Não se pode simplesmente fechar uma rua, mudar a velocidade, colocar ideias de utilizar bicicletas sem que a população tenha opções. afinal não estamos numa administração de uso de tico tico.