por Zé da Silva
Libra
Sempre volto para o mesmo lugar, mesmo sem ir lá. Em qualquer estrada onde tenha passado. No meio do nada, mas que tem tudo, ou seja, a ausência do ser humano e suas cidades que são como amebas disformes prontas a corroer tudo em volta. Presto atenção no som do motor do ônibus. Tem de ser à noite. Uma rateada ou troca de marcha errada é o sinal. Peço pra parar e salto no breu. Saio fora da serpente do asfalto e me embrenho no mato. Se tiver morro, melhor. Caminhada cega com tombos, arranhões nos espinhos. Ando até a exaustão. Durmo para ser acordado com o sol. Aí olho tudo e não saio do lugar. Ouvindo o mato e os bichos. Não há mais o tempo, apenas o dia e a noite, o dia e a noite. A fome ajuda no delírio. Até aparecer Joana D’Arc no cavalo de crinas luminosas.