por Yuri Vasconcelos Silva

Ao observar do alto tanta gente nas avenidas das principais capitais do país, um urbanista protestaria contra a estupidez do automóvel. Se cada um, ou mesmo cada família, ocupasse as mesmas ruas com seu carro, as manifestações ocupariam um espaço, no mínimo, dez vezes maior. Uma manifestação de rua ocuparia todo o centro. As imagens mostrando a densidade populacional em protestos nos centros urbanos também deixa claro que o transporte coletivo é um ótimo meio termo entre o caminhar e o automóvel. O transporte coletivo consegue agregar mais pessoas em um espaço melhor aproveitado na rua. Sem contar a coerência de que o transporte é público, assim como a rua sobre a qual ele transita. Todas as áreas asfaltadas com dinheiro público sendo ocupadas por enormes SUVs contendo um motorista é um desperdício de recursos. O espaço na rua é caro e deveria ser melhor aproveitado. Se o sujeito sai de casa e escolhe ir a pé ou de bicicleta para o trabalho, promove um ato de eficiência no uso do dinheiro público. Mesmo sem saber.

Um ciclista ou pedestre utiliza o melhor combustível com o mais eficiente motor: alimento e a energia gerada pelo corpo. Não é poluente (um pouco, talvez), apresenta altíssimo rendimento e promove a saúde. Já os automóveis utilizam uma arcaica tecnologia inventada no final do século retrasado. Motor à combustão interna. Precisam de um combustível não renovável – na maior parte do mundo – e liberam dióxido de carbono. São ineficientes já que perdem muita energia em calor e atrito. São barulhentos e geralmente estressam os ocupantes da direção. Além de ocuparem espaço, são bem caros. Não só o objeto em si, mas tudo que vem junto. Impostos, fluídos, manutenção, seguro, estacionamentos, apetrechos e adesivos. E, mesmo sendo um dos itens mais caros na planilha orçamentária da família, é o menos utilizado. O veículo passa boa parte de sua vida parado em garagens. Quantas horas por dia um cidadão com trabalho normal usa seu carro?

Carros menores, que utilizem energia renovável e limpa, parecem ser a solução a caminho oferecida pelas montadoras. Mas a transformação definitiva só vai ocorrer com a adoção do transporte em massa de alta qualidade – e a eliminação dos automóveis individuais. Esta é a solução para a circulação nas metrópoles do futuro. Então em 2075, belos e compridos trens suspensos alimentarão as praças das cidades com milhares de manifestantes contra o governo do momento, se ainda algum persistir.