por Elio Gaspari
A doutora Dilma parece perdida como cego em tiroteio. Sua reunião com os governadores foi mais um exercício de perda de tempo. Admitindo-se que ela consiga desviar-se da ruína econômica, resta-lhe uma decisão: o que fazer diante da Lava Jato? Até agora ela se deixou corroer porque supõe que pode ficar numa posição de neutralidade contra. “Eu não respeito delator” será uma frase que a acompanhará pela vida.
Ou ela se alista publicamente na Lava Jato, ou está frita. Lula deu meios passos ao tirar José Dirceu da Casa Civil e Antonio Palocci da Fazenda. Faltou dissociar-se do mensalão, e o resultado está aí. Fernando Collor teria terminado o mandato se, na primeira hora, tivesse rifado o tesoureiro Paulo Cesar Farias. O general Figueiredo arruinou seu governo e sua biografia acobertando o atentado do Riocentro.
Não há agenda positiva possível enquanto o governo estiver sitiado pelas roubalheiras que hospedou, tolerou e finge desconhecer. Pactos são coisa para patos. Um rompimento com os conluios será coisa difícil, até porque enquanto a doutora está neutra-contra a Lava Jato, a oposição está a favor, desde que ela pare, limitando-se na amplitude e no tempo.
A doutora deve reler o que diz. Na reunião com os governadores, informou:
“Nós, como governantes que somos, não podemos nos dar ao luxo de não ver a realidade com olhos muito claros.”
Quem souber o que isso quer dizer ganha um fim de semana em Miami.
*Publicado na Folha de S.Paulo