por Sergio Brandão
O gol de Lela contra o Santos, a defesa de Rafael contra o Atlético Mineiro e o gol de Gomes, nos pênaltis alternados, contra o Bangu, são as grandes marcas que ficaram na minha memória nesta história que comemora 30 anos. Apesar de tanto tempo, ainda parecem vivas. Quem sabe porque quis o destino que vivêssemos agora o oposto.
Nossa história foi feita de tantos créditos, que ainda sobram mais histórias alegres que tristes.
O futebol nada mais é do que este sentimento que todos temos, na emoção desta brincadeira deliciosa que é torcer. Coisa que faço há 55 anos. Um sentimento só passional. Capaz de unir como também de desunir. Futebol de histórias que vão do céu ao inferno.
Desde criança convivo com o Coritiba. Foram alguns senhores do futebol que me ensinaram este caminho. Meu bisavô viveu o período de fundação do clube.
Como definiu Nelson Rodrigues, somos uma pátria de chuteiras. Nós, coxas, ainda colocamos o emblema do Coxa na ponta.
Foi com este sentimento que aos meus 29 anos vi o Coritiba Campeão Brasileiro, em 85. Meu vocabulário é pobre pra definir exatamente o que senti naquele dia e nos jogos que antecederam à decisão.
Quem viveu aquilo sabe do que estou falando. É algo que definitivamente não cabe dentro da gente. Não há neste mundo palavra que defina aquele momento.
Ainda não vivi nada parecido. Não há nada igual ou próximo que possa servir de parâmetro de comparação. Um sentimento que dura horas, dias. Lembro que cheguei a pensar que se tudo acabasse naquele momento, não me importaria. Me dava por satisfeito e realizado, com nada mais a esperar da vida. É mais ou menos isto. Um sentimento inocente que enche a gente de felicidade, que parece transbordar.
Mas a gente ainda teima em tentar explicar não só o título maior, mas esta relação maluca. Se referir a este clube só pode ser com a palavra amor, que a gente imagina existir só na gente. Mas não é assim, é um amor dividido com milhares de pessoas e todos sabemos disso e aceitamos passivamente esta divisão.
É em nome deste amor que discutimos, brigamos, choramos, nos emocionamos, onde for. Não importa a divisão do futebol que estivermos. Mal sabem os adversários, deste sentimento, porque se soubessem, não perderiam tempo com outro time.
Cabemos todos dentro da mesma casa, do mesmo coração, do mesmo clube, dentro de um estádio que chamamos carinhosamente de Couto. Onde gritamos e choramos. Empurramos seja lá contra quem for, em nome deste amor que temos pelo Coritiba.