por Zé da Silva
Aquário
Meu reino tem na pele que cobre o corpo a única fortaleza possível. A faca escapou do pedaço de queijo e o sangue não para de escorrer. A dor foi aguda, mas a outra que me acompanha por cinquenta anos não há nada que estanque, que a faça sumir. Seria tão bom um band-aid para engolir… Havia um corredor grande lá em casa e uma toca com porta onde eu me escondia. Na parede Jimi Hendrix parecia coçar os pentelhos com as pontas dos dedos longos. Um rádio em cima de uma escrivaninha pobre dividia duas camas – a minha e de meu irmão. Nós dois nos perdemos de nós e dos pais na procura do remédio para a tal dor. De onde ela veio? Só soubemos depois de beijar a morte. Ela não veio. Ela é o sofrimento de quem tem a fortaleza sensível ao mistério humano, ao não saber o que há por dentro e o que podemos fazer. Há sangue, ossos, músculos, assim como bondade e maldade. O queijo manchado eu comi como um rato vampiro. Quero ser o morcego da porta principal. Gothan City.
Ô loco!