20:28Fruta aberta

de Thiago de Mello

Agora sei quem sou. 
Sou pouco, mas sei muito, 
porque sei o poder imenso 
que morava comigo, 
mas adormecido como um peixe grande 
no fundo escuro e silencioso do rio 
e que hoje é como uma árvore 
plantada bem alta no meio da minha vida. 

Agora sei as coisa como são. 
Sei porque a água escorre meiga 
e porque acalanto é o seu ruído 
na noite estrelada 
que se deita no chão da nova casa. 
Agora sei as coisas poderosas 
que valem dentro de um homem. 

Aprendi contigo, amada. 
Aprendi com a tua beleza, 
com a macia beleza de tuas mãos, 
teus longos dedos de pétalas de prata, 
a ternura oceânica do teu olhar, 
verde de todas as cores 
e sem nenhum horizonte; 
com tua pele fresca e enluarada, 
a tua infância permanente, 
tua sabedoria fabulária 
brilhando distraída no teu rosto. 

Grandes coisas simples aprendi contigo, 
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres, 
com as espigas douradas no vento, 
com as chuvas de verão 
e com as linhas da minha mão. 
Contigo aprendi 
que o amor reparte 
mas sobretudo acrescenta, 
e a cada instante mais aprendo 
com o teu jeito de andar pela cidade 
como se caminhasses de mãos dadas com o ar, 
com o teu gosto de erva molhada, 
com a luz dos teus dentes, 
tuas delicadezas secretas, 
a alegria do teu amor maravilhado, 
e com a tua voz radiosa 
que sai da tua boca 
inesperada como um arco-íris 
partindo ao meio e unindo os extremos da vida, 
e mostrando a verdade 
como uma fruta aberta. 

Uma ideia sobre “Fruta aberta

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