Do blog Cabeça de Pedra
O psiquiatra perguntou se ele lembrava de alguma coisa antes dos três anos de idade. Só vendo as fotos, disse o paciente, com 35 anos de divã. O doutor queria saber como a mãe o tratava naquele início de vida. Ele só lembrou da história do leite condensado que tomava no lugar do leite materno – e brincava que tinha ficado um docinho para enfrentar a vida. Não tinha mais como perguntar para quem o pariu. Lembrou então que uma pessoa da família poderia informa alguma coisa. Era a irmã da mãe, que morava no mesmo terreno, mas na casa da frente. Fez o telefonema interurbano. Ouviu uma história linda. As duas eram costureiras, mas uma passava o filho para a outra porque era mais devagar, cautelosa com as encomendas. A tia contou que impulsionava a máquina com o pé direito enquanto a perna esquerda ficava de lado para sustentar e proteger a criança. Ele cresceu a chamando de mãe. Um dia chegou chorando desesperadamente naquela casa. Contou que alguém tinha-lhe dito que a tia não era mãe. Era – e só ele e ela sabiam e sentiam isso.
Agora sabemos que a máquina do tempo existe: é a de costura.
Para alguns políticos a melhor máquina é a administrativa, que chuleia, caseia, remenda, costura e faz pontos de nós invisíveis aos passíveis colaboradores no fortalecimento dos laços da sub existência.
Se levamos choque no aumento da dose mensal, esquecemos do aumento das cataratas contas de água, sem falar das etc e tal.